Amizade Abusiva | 7 sinais que identificam que aquele amigo do peito é na verdade um amigo da onça

20 de julho é comemorado o Dia do Amigo, mas será que você tem motivos reais para comemorar?

Cá pra esses cantos de Minas Gerais, temos o costume de chamar um mal amigo de amigo da onça. Para quem não sabe, essa expressão foi popularizada a partir do personagem Amigo da Onça, criado pelo cartunista Péricles Maranhão em 1943, que era conhecido por colocar as pessoas em situações desagradáveis para tirar proveito delas.

Trago este pequeno recorte da nossa vasta cultura para falarmos de um assunto muito sério, mas que não damos à devida atenção: a existência de amizades abusivas. Embora falemos bastante sobre relações abusivas, costumamos nos ater aos aspectos de uma relação afetivo/sexual, e deixamos um pouco de lado todas as outras relações que tem o potencial de se tornarem destruidoras em nossas vidas, incluindo as relações de amizade.

“Então quer dizer que todas as relações humanas, sejam de amizade, amor, familiares ou relações de trabalho tem potencial para serem relações abusivas?” – Sim, meu pequeno gafanhoto. Mas por ora, nos ateremos às relações de amizade, ok?

A primeira coisa que precisamos saber é o que é uma relação abusiva. Primeiramente, não caiam na ilusão, que atualmente se vende aos montes, da existência de relações perfeitas. Pessoas perfeitas. Vidas perfeitas. Relações perfeitamente saudáveis não são perfeitas, desconfie que todos os discursos que vendem algo diferente disso.

É normal que em uma relação de amizade existam desavenças, desentendimentos ocasionais, brigas e mágoas e nenhum de nós está livre de errar às vezes. A diferença crucial é que em uma relação saudável existe espaço para o diálogo, para a reflexão verdadeira, para a crítica e autocrítica e, fundamentalmente, o afeto genuíno para com a outra pessoa, o respeito pelos limites e o cuidado na não repetição de comportamentos que já foram apontados como causadores de sofrimento.

Tendo isto em mente, podemos definir o que é uma relação abusiva: Comumente definimos como relações abusivas àquelas em que duas ou mais pessoas se relacionam, mas nas quais existe um excesso de poder de uma ou mais partes em relação à outra, de forma que uma subjugue a outra. Tenhamos em mente que nesses tipos de relações a violência é recorrente e aumenta de intensidade com o passar do tempo.

Categorizamos alguns tipos de violências que podem ocorrer dentro das relações, a saber: violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. Não necessariamente, em uma relação abusiva, todos estes tipos de violência vão estar presentes.

“Mas minha consagrada, como é que eu sei se estou ou não em uma relação abusiva?” – Acalme seu coração, meu jovem padawan, que estamos chegando lá.

Listamos aqui alguns sinais de que você pode estar vivendo uma relação de amizade abusiva.


1 – Tudo precisa acontecer exatamente do jeito que a pessoa quer

Vocês estão de boas num sábado a noite e resolvem sair para uma balada (antes da quarentena, né mores. Fiquem em casa), você quer ir pra um lugar, seu amigo(a) quer ir para outro. Você cede. Você sempre cede. Se não fizerem exatamente o que ele(a) quer isso se torna um desentendimento. Sua vontade não é respeitada. Isso pode ser para ver um filme, decidir sobre uma viagem, onde comerem, com quais pessoas saírem. O que nos leva ao segundo sinal…

2 – Você não tem mais controle sobre seu círculo de amizades e se afastou de outras pessoas.

Antes de conhecer seu amigo(a), você tinha muitos amigos diferentes e convivia bem com eles. Ou tinha poucos amigos ou nenhum e convivia mais com a sua família. Nesse ponto, a quantidade de relações não importa, o que importa é que você não tem mais controle sobre as pessoas na sua vida. Te convenceram que nenhuma é boa o suficiente para você, que nenhuma te valoriza, que todos são falsos. O mundo inteiro é uma constante fonte de pessoas ruins exceto ele(a), o alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Existem crises de ciúmes quando você está com outra pessoa, pode existir chantagem psicológica. E aí chegamos ao terceiro sinal.

3 – Ele(a) se coloca como vítima para manipular você.

Essa é uma das formas mais sutis de agressão, sobretudo porque não se parece com algo agressivo. Muito pelo contrário, ele(a) se torna a vítima da situação. É uma atriz, verdadeira Paola Bracho fingindo que está paralitica para obter vantagens da pobre Paulina , que no caso é você. Se você fizer algo que essa pessoa não concorda ou te pediu para não fazer, como se encontrar com outros amigos, por exemplo, ele(a) vai dar um show de lágrimas, dizendo que se sentiu traído(a)/abandonado(a), que você não deveria ter feito isso com ele(a), depois de tudo que ele(a) fez por você… Enfim, o objetivo aqui é te fazer sentir culpa. Fazer sentir-se mal por simplesmente fazer algo que você gostaria de fazer e que não prejudicou em nada a outra pessoa.

4 – Você é constantemente diminuído(a).

No início da relação seu amigo(a) te fez sentir a pessoa mais especial do mundo. Vocês se divertiam muito juntos e ele(a) apreciava as suas contribuições para amizade. Ele(a) te mostrou coisas novas e maravilhosas e você nunca se sentiu tão bem e tão valorizado(a). Agora o jogo virou. Paola tirou a máscara, meu bem. Ele(a) diz o tempo todo como você é ruim em algo, aumenta a importância que ele(a) tem na sua vida, te critica constantemente e pontua o tempo todo como você tem sorte de lhe ter em sua vida. Ele(a) se mostra uma parte essencial da sua vida e você tem o sentimento que deveria ser grato(a) pelo fato de que, a despeito dos seus inúmeros defeitos, alguém ainda se importa com você. Ele(a) destruiu sua autoestima. Tudo de errado na relação de vocês é culpa sua.

5 – Você se sente constantemente como se estivesse pisando em ovos ao redor dessa pessoa.

Não existe mais espontaneidade nessa relação. Você vigia e se atenta com o que vai falar, como e quando pode pontuar alguma coisa. Você tem medo das reações se atrever-se a dar sua opinião sincera sobre tudo que pode desagradar a pessoa. O diálogo não existe, exceto se houver um consenso sobre algo. Você não consegue mais confiar todos seus problemas à pessoa, pois isso já foi usado contra você em outras ocasiões. Você passa a viver dentro de limites muito estreitos quando está ao redor dessa pessoa.

6 – Ele(a) conta mentiras sobre você para outras pessoas, ou faz você mentir para protegê-lo.

Pessoas chegam para você e lhe contam coisas horríveis que seu suposto amigo(a) disse ao seu respeito, quando você vai confrontá-lo(a), ele dá um jeito de te manipular (sinal número 3). Pessoas apontam para você que essa relação não vai bem e que você mudou. Você pode até concordar internamente com essas afirmações e reconhecer que não está feliz, mas você se sente na obrigação de mentir para proteger a imagem do seu amigo(a) e a sua própria. O que nos leva ao último sinal que vamos listar.

7– Dependência emocional.

Você pode até reconhecer-se como infeliz nessa relação, pode ter ciência dos problemas e sente-se envergonhado(a) por permanecer nessa situação. Mas nesse ponto, você acredita que não tem muitas opções, pois todas as relações que você mantem atualmente estão ligadas à ele(a). Você não acredita ser capaz de construir novas relações significativas e prefere o desconforto atual a perspectiva de ficar completamente sozinho(a). Ele(a) destruiu sua autoestima.

Estes são alguns dos sinais (não todos) que podem estar presentes em relações abusivas. Neste dia do amigo, se você identificou nas suas relações um ou mais destes sinais, tome cuidado. Nem tudo o que amamos nos faz bem e as vezes é necessário a dificissílima tarefa de abandonarmos aquilo que acreditamos não conseguir viver sem. Mas, acreditem, já dizia Fernanda Abreu:

“Sempre haverá outra esquina
Outra beleza, outro cara, outra mina
Sempre haverá um mané, sem noção, um otário
Querendo atrasar
Sempre haverá outro dia
Ensolarado e outra noite vadia
Sempre haverá outra chance
Outra mão ao alcance querendo ajudar”

Sobre Caroline Ariel

Psicóloga, feminista, cacheada e mineira. Não necessariamente nessa ordem. Uma vida dividida entre o café e a cevada. Adoro cozinhar, bordar e, neste momento, customizar roupas. Eterna otimista.