Nós | Diretor usa Terror e crítica social para apontar a hipocrisia dos EUA

Jordan Peele (Corra!) ousa dentro de sua própria fórmula e entrega um filme repleto de analogias e referências.

Pode parecer clichê, mas “Nós” é o típico filme que não dá para falar muito sobre a trama, já que o grande diferencial é tentar compreender o grande quebra-cabeça realizado pelo diretor e roteirista Jordan Peele (Corra!).

O filme apresenta uma família, pai, mãe e dois filhos que estão de férias e resolvem passar o verão numa casa de veraneio, no entanto Adelaide (Lupita Nyong’o) a matriarca não está se sentindo muito a vontade com a ideia devido a traumas da infância no mesmo local, apesar disso, a família resolve ir e já na primeira noite recebem a visita de uma família e para a surpresa deles é uma cópia/clone deles mesmo, é então que essa versão tenta matar os “originais” e assim então começa uma saga para tentar sobreviver a esses psicopatas deles mesmos.

Apesar de não ficar muito claro essa sinopse, ao assistir ao filme a trama tem uma lógica precisa realizada num roteiro inteligente e que mescla o entretenimento superficial de uma história de terror com uma obra que se aproxima de uma produção de arte cheia de camadas e leituras filosóficas e sócio-políticas.

Peele utiliza diversos ícones simbólicos na construção visual de sua obra e faz da história de terror um campo rico para dialogar com temas relevantes, e faz isso numa narrativa totalmente diferente das comumente encontrada em filmes de terror, o diálogo e os acontecimentos são mostrados com calma para que cada peça desse grande quebra-cabeça encontre caminho de solucionar todo o enredo. Mas como o filme flerta com uma obra mais “sofisticada” o diretor na cena final descontrói toda a conclusão que até então tínhamos e faz com que o espectador busque respostas para sua mensagem poderosa.

Como já foi citado o filme tem abertura para diversas interpretações, mas a que acredito ser a mais fácil e talvez a que o diretor quisesse ser a mais discutida é a religiosa frente diante da sociedade norte-americana, que usa o nome de Deus para justificar certas atitudes de xenofobia, racismo, homofobia e assim por diante.

Vale ressaltar outros grandes acertos do longa, além de um elenco que brilha a cada nova cena e nos diálogos certeiros, a trilha sonora é um elenco fundamental para criar o clima claustrofóbico que praticamente acontece durante todo filme, junto a isso tem o roteiro que separa os personagens para dar volume narrativa e a montagem se mostra precisa nesse encaixe, mas talvez o grande diferencial acontece no humor pontual e de extremo bom gosto nos diálogos, algo que lembra muito as obras de Tarantino.

Nós não é um filme fácil, ele requer do espectador concentração para não ficar perdido na ousada narrativa que nos leva a pensar por muito tempo sobre tudo que vemos na telona.

Confira o trailer:

Sobre Kadu Silva

Publicitário, administrador e cinéfilo desde sempre. Fundador e redator responsável pelo site Ccine10, o cinema como você vê, desde 2009.