Por que as marcas ainda procuram creators queer apenas no Mês do Orgulho?


Por Raphael Dagaz – CEO da Dagaz Influencer

Marcas precisam investir em vivência com a comunidade, para entender, planejar e
criar suas campanhas

Você já deve ter reparado que muitas marcas trocaram as fotos de seus perfis nas redes
sociais, incluindo as cores do arco-íris como background de suas logos, certo?
Isso se deve ao fato de estarmos no Mês do Orgulho LGBTQIA+, o mês dedicado à
conscientização e amplificação das diversas vozes que compõem a comunidade.

A cada ano, mais marcas têm se sensibilizado com a causa, apoiando a comunidade de
diferentes formas: campanhas especiais, ações com influenciadores, patrocínio a
eventos…

Por outro lado, ainda existe certo receio no mercado quanto ao tema. No país que mais
mata LBGTQIA+ , ano após ano, vemos manifestações virtuais contrárias às ações das
marcas e, talvez por isso, outras marcas ainda temam se posicionar sobre o assunto.
Mas, sabemos que mudanças sociais significativas são construídas sob ameaças à
liberdade há tempos. E é por isso que um dos mais fortes sinônimos para a luta
LGBTQIA+ é resistência.

E, se uma parcela desses empreendimentos não se posicionam, há ainda uma parcela de
empresas e marcas que praticam o chamado pinkwashing, que é quando uma marca
apoia a comunidade quando é conveniente (no mês do orgulho, por exemplo).

Mas temos também marcas que são verdadeiras parceiras da comunidade, que se
posicionam e propõem mudanças estruturais em suas organizações, oferecendo novas
oportunidades a esses grupos sub representados.

Um exemplo bacana dessa reorganização é o que tem sido feito pela Nike e Puma. A
pesquisa Diversidade & Inclusão no Esporte, em parceria com a Nix Diversidade,
revelou que 42,8% da comunidade não tem acesso a esportes.
Com os dados em mãos, as marcas se envolveram em várias iniciativas, que apoiam a
inclusão e a diversidade nos esportes, além de apoiarem coletivos que prestam suporte à
comunidade.

Segundo uma pesquisa da Nielsen, de 2021, a comunidade LGBTQIA+ e seus
apoiadores, são a parcela da população que mais consome marcas que levantam a
bandeira.

A esta altura, no ano passado, metade dos criadores de conteúdo LGBTQIA+ não havia
fechado nenhuma parceria, exceto aqueles que foram contactados pelas marcas para
realizarem ações específicas para o mês do orgulho.

A Dagaz Influencer vem chamando a atenção das marcas, trazendo dados de
importantes institutos de pesquisa do setor, demonstrando os benefícios por trás de um
posicionamento claro quanto a essas questões.

Também falamos constantemente sobre essa discrepância na contratação de creators de
grupos sub representados, focadas apenas nas datas especiais, como o Mês do Orgulho e
o Mês da Consciência Negra.

Como as marcas devem se organizar?

Se a sua marca não quer para si o estigma do pinkwashing, reavaliar as campanhas e
discursos para o restante do ano pode ser uma boa saída.

Se pergunte de que forma a sua marca apoia a comunidade nos demais meses do ano,
quais impactos positivos sua marca proporcionou para a comunidade, quantas vezes
pessoas LGBTQIA+ aparecem em suas campanhas, fora do mês de junho…

Como agência, ainda temos muito desse trabalho de educar as marcas para
desenvolvermos. Muitas vezes, nem as ações do mês de junho com a comunidade foram
incluídas no planejamento.
São várias as marcas que chegam de última hora, pedindo job para ontem e isso não é
nada saudável para quem está por trás das campanhas de conteúdo.

A pressão em cima dos criadores de conteúdo gera ansiedade e frustração para ambos os
lados. É preciso mais planejamento, antecipação e consideração da parte dos
contratantes com os creators.

Mas, é só isso?

Claro, apoiar a comunidade, fazer campanha, contratar influenciadores e trocar a logo
nas redes sociais é bacana, sim. Mas, essa é só a ponta do iceberg.

As marcas precisam ouvir mais a comunidade, precisam vivê-la, para entender, de fato,
os seus anseios.

Outra pesquisa, também da Nielsen, verificou que um em cada cinco pessoas queer
entrevistadas, que foram impactadas por publicidade direcionada pela sexualidade,
consideram que as marcas erram ao reforçar estereótipos.

A pesquisa obteve dados riquíssimos, que podem ajudar a sua marca a atingir seus
objetivos com maior assertividade:

– 50% dos entrevistados acreditam que as marcas devem evitar estereótipos que
envolvam pessoas LGBTQIA+;
– 44% acredita que as marcas precisam ser mais realistas em suas representações
publicitárias em relação à comunidade;
– 37% acredita que as marcas precisam investir em vivência com a comunidade,
para entender, planejar e criar seus anúncios.

Então, a mensagem que fica é: não tenha medo de se posicionar e ser parte da mudança
que precisamos. Não deixe a campanha para a última hora, não é legal pressionar os
creators. Inclua-os em outras ações, e escute a comunidade. Todes de acordo?

Raphael Dagaz – CEO da Dagaz Influencer

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