Por que as bruxas são más? Uma breve reflexão de como o cristianismo contribui para a perpetuação da submissão das mulheres

A palavra “bruxa” no idioma sânscrito (a língia sagrada da Índia) significa “mulher sábia”.

Em latim a palavra bruxa significa “larva de borboleta”

Somando os dois significados podemos dizer que ser “bruxa” é ter a sabedoria e o poder de se auto transformar.

Hoje nos dicionários se você fizer uma busca pelo termo “bruxa” provavelmente encontrará uma direta vinculação com uma figura maléfica, feia e perigosa. Neste sentido, também os livros infanto-juvenis costumam descrever histórias onde existe uma fada boa e linda e uma bruxa má e horrível.

Entender em que momento da história a bruxa deixou de ser sinônino de sabedoria e passou a ser retratada como algo a ser temido pelo sociedade é fundamental para interromper um discurso machista que infelizmente se estende até os dias atuais.

Ao analisarmos o contexto histórico da Idade Média, vemos que bruxas eram as parteiras, as enfermeiras e as assistentes. Conheciam e entendiam sobre o emprego de plantas medicinais para curar enfermidades e epidemias nas comunidades em que viviam e, conseqüentemente, eram portadoras de um elevado poder social. Estas mulheres eram, muitas vezes, a única possibilidade de atendimento médico para mulheres e pessoas pobres. Elas foram por um longo período médicas sem título. Aprendiam o ofício umas com as outras e passavam esse conhecimento para suas filhas, vizinhas e amigas.

Por se tratar de um conhecimento pagão, ou seja, que não era oriundo do cristianismo, os religiosos da época começaram a perseguir essas mulheres, pois queriam manter o monopólio do conhecimento. Dessa forma, passaram a espalhar para os fiés que estas mulheres possuíam um “pacto com o demônio”. Sim, porque tudo que não pode ser explicado pela Bíblia vira algo passível de endemonização. E foi dessa forma que ao longo de séculos mais de 60 mil pessoas foaram perseguidas e queimadas na fogueira.

É importante observar que essa postura que antagoniza o conhecimento e coloca as mulheres como vilãs não é algo novo vindo do cristianismo. Desde o primeiro capítuo da Bíblia “Gênesis”, é colocada à prova a curiosidade humana quando Deus apresenta uma macieira fruto do conhecimento e na sequência deixa claro que os humanos não podem provar desse fruto. Um alegoria precisa para que as pessoas entendam que não se pode ter outra fonte de conhecimento que não seja aquela aprovada pelo seu próprio Deus. Na sequência, a única mulher do paraíso não resiste a tentação e come a maçã. Sendo colocada como o elo fraco do casal e responsável pela expulsão dos humanos do paraíso.

Até os dias de hoje os cristãos são batizados para se livrar do que eles chamam de “pecado original”, uma forma de lembrar a “cagada” que a Eva fez ao buscar o conhecimento e perpetuar ainda que inconscientemente os valores machistas da religião que colocam a mulher sempre como dependente do homem para tomar uma boa decisão.

Recentemente viralizou na internet um vídeo onde a noiva rejeita o voto do pastor que sugere para ela ser submissa ao marido. Na ocasião os convidados riram, mas é verdade é que na maioria das vezes esse voto é apenas acatado e muitas mulheres são privadas até mesmo de poderem fazer a faculdade, pois para alguns pastores a mulher precisa focar única e exclusivamente na família.

Aos poucos essa imagem pejorativa da bruxa vem mudando graças as mãos de autoras como J.K Rowling criadora de Harry Potter (livro que também foi censurado pelos cristãos), que ao dar vida a Hermione, uma personagem famosa por sua sabedoria, mostrou como uma mulher no momento e lugar certo pode fazer toda a diferença. A retomada da série “Sabrina” na Netflix também contribuiu para dar protagonismo ao empoderamento feminino e mostrar um outro lado de uma história triste marcada por muitas fake news, sangue e injustiças.

O pergunta que fica é: porque será que incomoda tanto os cristãos quando as pessoas resolvem buscar conhecimento? E a quem interessa a manutenção de um sistema que perpetua a submissão da mulher perante os homens? O que aconteceria com esses líderes religiosos se as mulheres começassem a opinar sobre suas próprias vidas e corpos?

Essa é uma reflexão que tem que ser feita constantemente por todos independente de gênero ou religião, pois o machismo é uma realidade e precisa ser descontruído diariamente em nossa sociedade.

Eu fico por aqui. Feliz dia das bruxas para todas as mulheres que tem sede de conhecimento e não deitam para sistema patriarcal!

Sobre Emílio Faustino

Formado em jornalismo, atua na área há mais de 15 anos. Amante da sétima arte, no YouTube apresenta o canal EmpoderadXs onde entrevista atores, diretores e ativistas. Atuou em empresas como Rede Globo e UOL, sempre com enfoque em cultura e ativismo. É diretor executivo e fundador do site EmpoderadXs, onde promove a união de minorias sociais e realiza seu sonho de dar voz para quem precisa.