Dia do Advogado: mulheres representam 49,79% da categoria, mas ainda são minoria em cargos de chefia

Segundo pesquisa, mesmo com maior representatividade, as mulheres ainda precisam contornar uma série de preconceitos no âmbito profissional

Quando “The Good Wife” estreou em 2009 pela CBS, a série conquistou elevados índices de audiência com uma sinopse em que Alicia Florrick retorna ao seu antigo trabalho como advogada – devido a prisão do marido, envolvido em escândalos de corrupção e vida extraconjugal. Além da responsabilidade de criar os seus dois filhos, Alicia – mulher e, agora, sozinha – segue, também, as dificuldades e desventuras da vida advocatícia.

O enredo, embora dramático e ficcional, aproxima-se veemente dos movimentos que lutam pela igualdade de gênero e visam coibir abusos e assédios, sobretudo no ambiente de trabalho.

A ocasião nos lembra que hoje (11 de agosto) é comemorado, no Brasil, o dia do advogado e, sempre que uma data solene de determinada categoria aparece em pauta, a velha discussão reacende: “[…] mas, e ELAS”?

Na data em que se comemora o Dia dos Advogados, as advogadas ainda são vistas apenas como mulheres, remetendo-nos a todo o contexto histórico de opressão e luta por igualdade de gênero.

Mas o ambiente permite mudanças, ainda que introvertidos!

Historicamente masculino, o campo jurídico apresenta contornos com maior representatividade em crescente exponencial.

Segundo dados da própria Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), hoje, as mulheres já somam 49,79% do quadro profissional de advogados. São 598.942 advogadas em face dos 1.272.920 inscritos no Conselho Federal.

Do quantitativo por faixa etária, as mulheres são maioria até os 40 anos, somando cerca de 57% de todos os inscritos. A partir dos 41 anos, esse percentual cai para cerca de 42%.

Esse padrão se mostra constante em todos os Estados, destacando-se São Paulo, em que até 25 anos de idade as mulheres reivindicam 66% dos inscritos; de 26 a 40 anos os números são menores, mas ainda expressivos: 56%.

Numericamente compatíveis, socialmente em desvantagem. Embora com maior diversidade de gênero, as mulheres ainda representam a fração minoritária dos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos das grandes empresas. Entre os vários fatores que contribuem para uma menor representatividade especialistas citam que proporção numérica não se mantém nos cargos de liderança.

Segundo levantamento da Women In Law Mentoring Brazil (associação sem fins lucrativos para incentivar o protagonismo feminino) feito em 2018, com dados referentes a 2017, apenas 34,9% dos sócios de capital é composto por mulheres no Brasil. A pesquisa contou com a participação de 55 sociedades de advogados, que reuniam cerca de 3.715 profissionais.

Voltando-se para o ambiente corporativo, a pesquisa anual Women in Business, realizada pela Grant Thornton, com dados coletados de cerca de 5.000 empresas em 35 países, mostra, na edição de 2019, que apenas 29% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. No Brasil, esse percentual é pouco menor: 25%.

O estudo revelou, ainda, que a porcentagem global de empresas com pelo menos uma mulher na alta administração subiu de 75%, em 2018, para 87% em 2019, sendo a maior proporção registrada na série histórica da pesquisa.

No entanto, estudo de 2020 mostra que a proporção de mulheres em cargos de liderança é a mesma do ano anterior. Como em 2019 o aumento foi de cinco pontos percentuais em relação a 2018, o resultado representa uma estagnação do progresso anterior.

Os pesquisadores do estudo em comento afirmam que o aumento registrado em 2019 se deu a partir da atenção gerada pelo movimento #MeToo e estudos de disparidade salarial entre gêneros. A partir desse momento, os números se estabilizaram.

Não obstante estejam mais presentes no cenário jurídico, as mulheres ainda não desempenham o protagonismo nas relações profissionais. Assumem timidamente certos graus de liderança, mas representam percentuais ínfimos em cargos mais altos, como CEOs e Conselheiros.

Embora ações sejam adotadas por empresas ao redor do mundo para potencializar competências e aumentar o protagonismo feminino, as mudanças ainda ocorrem em ritmo lento.

Fato é que ainda há um forte questionamento sobre habilidade na execução de tarefas, tornando díspares homens e mulheres mesmo quando os trabalhos não exigem especificidade em razão do sexo.

Soma-se a isso o fato da mulher precisar contornar sua posição histórica de sexo frágil, se desviar dos assédios no ambiente de trabalho e lutar contra privilégios de grupos que não se encontram em vulnerabilidade social.

Se o script da fictícia Alicia Florrick se encerrou em 2016 com o fim de “The Good Wife”, a busca por espaço e aceitação ainda é um efetivo latente das personagens reais desse drama.

A ampliação de um ambiente favorável à inclusão é um debate em construção. Há muito o que avançar!

Veja o estudo completo da Women in Business 2020 aqui.

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