Os Primeiros Soldados | Filme acompanha a luta dos primeiros brasileiros que conviveram com o HIV

Longa dirigido por Rodrigo de Oliveira, foge do vitimismo e apresenta de forma poética e humanizada personagens que buscam respostas em um período onde pouco se sabia sobre o vírus.

Ambientado na virada de 1983, “Os Primeiros soldados” acompanha um grupo de jovens LGBTQIA+ que sem nenhuma informação enfrentam os desafios da chegada do vírus HIV em uma época em que nem mesmo nome para a o vírus existia. É dentro desse sentimento de desorientação e busca por respostas que o diretor Rodrigo de Oliveira coloca a sua mão e nos entrega uma direção sensível que transforma algo que poderia ser extremamente pesado em  uma história delicada e ao mesmo tempo potente.

Costurado com uma narração que goza de um texto rico em poesia, o filme possui um ar melancólico e ao mesmo tempo reflexivo, nos levando a questionar sobre a brevidade da vida e o valor que damos a ela. A fotografia crua e predominantemente estática evidência toda a movimentação dos personagens e dá um ar documental a essa fábula que retrata um período histórico que se tem poucos registros.

Na trama, o biólogo Suzano sabe que algo de muito terrível começa a transtornar seu corpo. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima Suzano da artista transexual Rose e do videomaker Humberto, igualmente doentes. Juntos eles tentarão sobreviver à primeira onda da epidemia de AIDS, formando assim um grupo improvável de desbravadores que enfrentam uma “guerra” cujo inimigo ainda se tem pouquíssimas informações.

O destaque do filme fica por conta das atuações que são arrebatadoras, em especial do ator Johnny Massaro que da vida a Suzano, um homossexual de classe média alta, que contrai o HIV no exterior. Fugindo de estereótipos carregados de preconceito, Massaro entrega uma atuação sensível que humaniza as pessoas que passaram e passam por esta situação. Quem também brilha muito é a atriz Renata Carvalho, que empresta a sua força para a personagem Rose, uma travesti que trabalha na noite fazendo shows.

Dos muitos sentimentos suscitados pelo filme, o que predomina é o sentimento de comunidade que se estabelece entre os personagens, algo admirável que infelizmente falta na comunidade LGBTQIA+, que muitas vezes se divide entre siglas, tipos se esquecendo que mesmo com nossas diferenças somos todos invariavelmente alvo do preconceito da sociedade.

Os primeiros soldados é um filme que exala arte e que poderia representar muito bem o Brasil no Oscar 2023. Um filme poético, contundente e extremamente necessário. Vale à pena conferir esta obra que estreia nesta quinta nos cinemas de todo o país!

Confira o trailer do filme:

Sobre Emílio Faustino

Formado em jornalismo, atua na área há mais de 15 anos. Amante da sétima arte, no YouTube apresenta o canal EmpoderadXs onde entrevista atores, diretores e ativistas. Atuou em empresas como Rede Globo e UOL, sempre com enfoque em cultura e ativismo. É diretor executivo e fundador do site EmpoderadXs, onde promove a união de minorias sociais e realiza seu sonho de dar voz para quem precisa.