Mídia alternativa se abre para público com deficiência

Hoje poucos podcasts disponibilizam audiodescrição ou tradução em Libras, mas cenário está mudando. 
 

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 25 milhões de brasileiros possuem perda auditiva ou algum tipo de deficiência auditiva. Isso equivale a cerca de 10% da população. Ainda assim, boa parte dos produtos de Comunicação no país, sejam TV aberta ou serviços de streaming, vídeos no Youtube e podcasts não possuem tradução na Língua Brasileira de Sinais (Libras). E nem sempre os motivos para isso são financeiros.

“Normalmente as pessoas pensam que o público com deficiência auditiva é pouco. Já prospectamos clientes em vários podcasts e muitos declinam educadamente, dizendo que não há interesse”, explica Danilo Souza, Diretor de Operações da Open Senses, empresa paulista especializada em audiodescrição e tradução em Libras.
 

De acordo com dados da Revista Exame, o Brasil é o terceiro país do mundo que mais consome podcasts, com mais de 30 milhões de ouvintes, ficando atrás apenas da Suécia e Irlanda. No entanto, é impossível precisar hoje quantos podcasts brasileiros oferecem a tradução em Libras, tendo em vista que a Associação Brasileira de Podcasters (abPod) não possui dados sobre o assunto.
 

Fato é que esse público poderia dobrar da noite para o dia, com a popularização da tradução em Libras. Segundo Danilo, pela natureza da mídia, existe um grande público que a consome e ela abrange conteúdos muito mais plurais do que os formatos tradicionais. “Seria socialmente muito importante e daria uma visibilidade enorme para esse público. Gostaria de ver os grandes podcasts, que lideram as estatísticas, terem essa preocupação. E mesmo os produtores independentes traçarem estratégias para fazer isso acontecer”.
 

Dentro desse cenário, o Não Inviabilize, podcast campeão de audiência, que traz histórias de diversos tipos enviadas por ouvintes e que atualmente possui mais de 72 milhões de reproduções e mais de 100 mil reproduções por episódio, se destaca, ao disponibilizar as histórias em Libras no seu canal do Youtube.
 

A partir do próximo dia 15 de maio, o Não Inviabilize oferecerá gratuitamente acesso a mais de 400 histórias traduzidas em Libras, trabalho realizado pela empresa brasileira Open Senses. De acordo com a contadora de histórias e idealizadora do podcast, Déia Freitas, o objetivo é que, num futuro próximo, as histórias saiam no Youtube em Libras e nos agregadores de podcast simultaneamente.
 

“Eu sempre quis que o meu conteúdo fosse o mais acessível possível, pensei que só com a transcrição dos episódios eu teria cumprido com o item de acessibilidade. Conversando com algumas pessoas com deficiência auditiva, descobri a necessidade do conteúdo em Libras. Espero que as pessoas curtam as histórias em libras e fiquem felizes por mais essa possibilidade de acessar o conteúdo!”, explicou.
 

Para Danilo Souza, a iniciativa do Não Inviabilize foi pioneira, na medida em que ela propôs que todo o conteúdo fosse traduzido para Libras de uma vez. “O maior desafio foi o volume de material. São dois anos de produção, que resultaram em dois meses de gravação, 93 horas de mídia. Esse foi o maior projeto que já fizemos de uma tacada só. Eu não sei de nenhuma iniciativa semelhante e ela é o maior podcast do país a fazer isso”, afirmou.
 

Os episódios serão disponibilizados aos poucos, no endereço www.youtube.com/naoinviabilize, com a publicação de cinco vídeos por dia, de segunda a sexta-feira. A tradução das histórias aconteceu graças aos contribuintes do Não Inviabilize pela plataforma Apoia.se, que apoiam mensalmente com R$ 10 os projetos de Déia. A podcaster economizou por dois anos para que a tradução fosse possível.
 

No entanto, o Diretor de Operações da Open Senses tem um conselho para podcasters independentes interessados em buscar a tradução em Libras ou a audiodescrição. “Se aproxima da comunidade para a qual você quer que o seu conteúdo seja acessível. Nas redes sociais, tem muitas pessoas com deficiência auditiva. Tenta entender como a comunidade se organiza. Se aproxima dessas pessoas e dialoga, até porque não adianta nada só pagar pra fazer, sem esse diálogo seu conteúdo não vai ser consumido, mesmo que traduzido. Penso que o começo de tudo é a aproximação, porque aí a acessibilidade acontecerá, sendo uma consequência desse processo”.

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