Doutor Estranho | Sequência abraça a diversidade e apresenta personagem latina filha de casal homoafetivo

Além de apresentar a personagem America Chavez, filme expõe o machismo estrutural de nossa sociedade ao questionar como atitudes similares podem ter pesos e medidas diferentes para homens e mulheres

Que loucura, hein?! Wanda não hesitou e logo de cara mandou um “Bora Doutor, você e eu no paredão?”. Piadas à parte com o BBB, o filme “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, entrega um vilão humanizado que embora a gente repudie várias de suas atitudes, conseguimos entender perfeitamente as suas motivações e alguns momentos até sentir empatia pelo mesmo.

Quem fez o dever de casa  (leia-se: esquema de pirâmide da Marvel) e assistiu às séries “Wanda Vision”, “Loki” e “What if…?”, conseguirá acessar  muito mais camadas do filme, uma vez que as séries contribuem para apresentar personagens e aprofundar as relações que irão colidir nesse filme que honra o nome e entrega um misto de loucura e genialidade orquestrada pelas mãos do experiente diretor Sam Raimi que deixou sua marca no cinema com a memorável trilogia de Homem-Aranha protagonizada por Tobey Maguire.

A produção abre as portas do Multiverso da Marvel e expande seus limites mais do que nunca, acompanhando a magia e o desconhecido com o Doutor Estranho, que – com a ajuda de seus antigos e novos aliados. Destaque para America Chavez, uma personagem (com o perdão do trocadilho) chave para a trama, uma vez que ela literalmente abre portais para outras dimensões à base do soco. É bem interessante observar que tenha sido justamente uma personagem de origem látina e filha de uma relacionamento homoafetivo entre duas mulheres que possui o poder de fugir para outras realidades.(Pausa para vocês refletirem na crítica social implícita)

Se no Brasil temos um Arthur que traiu a mulher mais de 16 vezes e foi perdoado pela população, enquanto apenas a suspeita de uma traição da Luisa Sonza gera hate até hoje, no filme temos um momento icônico onde essa balança de dois pesos e duas medidas aparece mais uma vez. Isso fica bem claro quando a Feiticeira Escarlate diz para o Doutor Estranho “Você quebra as regras e se torna um herói, eu quebro e viro inimiga. Não me parece justo”.


Um verdadeiro hino de empoderamento feminino, que está sendo ecoado num lugar extremamente necessário: nas salas de cinemas para o público geek, que infelizmente é famoso por comungar de uma cultura machista. Isso fica ainda mais claro quando a Marvel ou a DC lançam filmes protagonizados por mulheres como “Capitã Marvel” e “Aves de Rapina” e os haters se multiplicam nas redes para desmerecer e negativar os filmes das heroínas.

Do ponto de vista técnico o filme é impecável da trilha sonora aos efeitos especiais que enchem os olhos. Se tem um filme que vale a pena ver em 3D ou chapado é sem dúvida esse. Graças a tecnologia que hoje temos a loucura pode ser explorada em sua máxima capacidade em cenas muito bem executadas que transitam entre a ação, comédia, terror e o drama.

Em certo momento do filme é revelado a nós espectadores que aqueles sonhos que temos enquanto dormimos, não são sonhos. São universos paralelos onde existem uma realidade nossa naquela exata situação. Depois dessa informação fica impossível não pensar sobre as nossas inúmeras outras possíveis  realidades. Mas de tudo o que o filme entrega, o ponto alto do é que ao mesmo tempo que ele entretém muito bem, ele também consegue nos fazer refletir.

Afinal, você está feliz na sua atual realidade? E mais, o que você seria capaz de fazer para viver em uma realidade onde tudo ficasse do jeitinho que você sempre quis? Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é sobre isso: sobre repensar a nossa realidade e nos consolar (ou não) que em alguma outra realidade a gente pode estar vivendo a  vida que sempre sonhamos.

Vale muito a pena ver e se surpreender com as participações especiais do filme! 

Confira o trailer:

Sobre Emílio Faustino

Formado em jornalismo, atua na área há mais de 15 anos. Amante da sétima arte, no YouTube apresenta o canal EmpoderadXs onde entrevista atores, diretores e ativistas. Atuou em empresas como Rede Globo e UOL, sempre com enfoque em cultura e ativismo. É diretor executivo e fundador do site EmpoderadXs, onde promove a união de minorias sociais e realiza seu sonho de dar voz para quem precisa.