13 momentos da TV brasileira que foram verdadeiros marcos para a comunidade LGBTQIA+

Em homenagem ao 11 de agosto, Dia Internacional da Televisão, elencamos personagens e momentos icônicos que fizeram história na teledramaturgia brasileira

Ao longo dos anos os personagens LGBTQIA+ ganharam representatividade nas novelas e séries nacionais. Antes censurados ou retratados de forma caricata, esses personagens ganharam protagonismo, quebraram uma série de estereótipos e mudaram a vida de pessoas que finalmente passaram a se ver representadas na TV.

A primeira “vídeo chamada” da história

Comemorado em 11 de agosto, o Dia da Televisão é homenagem a Santa Clara de Assis, padroeira do meio de comunicação em 1958.

E qual foi o fato extraordinário da vida de Santa Clara que a fez padroeira da televisão?

Conta-nos a história que no natal de 1253, um ano antes de sua morte, Clara, acamada, desejava muito participar da santa missa na igreja de São Francisco, mas não tinha condições físicas para sair.

Em oração profunda, Clara clamou ao Senhor que permitisse a ela viver a missa de natal. Então, de acordo com o testemunho da própria santa, o milagre aconteceu. Em seu quarto, na cama, Clara viu e ouviu a missa completa e ainda pôde até comungar – “Escutei, por graça do Senhor, toda a solenidade celebrada esta noite na igreja de São Francisco e lá estive presente, recebendo até a santa comunhão. Agradecei comigo a Nosso Senhor Jesus Cristo, por tal graça a mim concedida”.

No Brasil, a televisão é comemorada em duas ocasiões. Em 11 de agosto e também em 18 de setembro, data da primeira transmissão televisiva no País.

Confira a nossa lista com os 13 momentos da TV brasileira que marcaram a comunidade LGBTQIA+:

Renascer (1993, Globo)

Maria Luiza Mendonça como Buba em Renascer

Através da personagem Buba (Maria Luiza Mendonça), a intersexualidade foi posta em cena, e o assunto teve grande visibilidade no país. No ano de exibição da novela, muito foi discutido em revistas, jornais e televisão sobre o hermafroditismo.

A Próxima Vítima (1995, Globo)

Sandrinho (André Gonçalves ) e Jefferson (Lui Mendes)

Os namorados Sandrinho (André Gonçalves ) e Jefferson (Lui Mendes) apaixonados sofriam dois tipos de preconceito em “A Próxima Vítima”: homofobia, por assumirem o namoro, e racismo, por serem um casal interracial. Não houve cena de beijo entre os dois jovens, mas a sequência em que Sandro conta para sua mãe que é gay, trouxe ao público de maneira bastante didática valores sobre o respeito às diferenças.

Nas ruas, a reação das pessoas as personagens não foi nem receptiva e nem pacifica.. André Gonçalves foi cercado e agredido. “Venho sendo xingado e ameaçado. Peço que parem com isso”, disse o ator em entrevista ao Jornal Nacional.

Torre de Babel (1998, Globo)

Ursula (Sílvia Pfeifer) e Maria Inês (Christiane Torloni)

O público ficou chocado com o casal lésbico Maria Inês (Christiane Torloni) e Ursula (Sílvia Pfeifer). Donas de uma uma loja em um shopping center, as personagens foram literalmente explodidas junto com o shopping logo no começo da trama, em uma época que ainda era normal impelir finais trágicos a personagens LGBTQIA+. O que pouca gente sabe, é que morte delas não estava escrita no roteiro original. A explosão das duas foi uma solução “fácil” para lidar com a rejeição do público as personagens.

Amor e Revolução (2011, SBT)

Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre)

Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre), personagens da novela Amor e Revolução, de Tiago Santiago, protagonizaram o primeiro beijo homoafetivo da televisão do Brasil.

É considerado um momento histórico e teve uma ótima receptividade do público que torceu e vibrou com final feliz das personagens.

América (2012, Globo)

Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) em América

Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) na novela “América” (2005) tinham tudo para protagonizar o primeiro beijo gay da TV. Apesar do beijo ter sido gravado, a cena foi censurada horas antes da exibição causando indignação e protestos do público que aguardava ansiosamente pelo beijo.

Lado a Lado (2012, Globo)

Rogéria como Alzira na novela Lado a Lado

Apesar de Rogéria ter estreado em teledramaturgia, fazendo um pontas em Tieta e posteriormente na série Malhação, foi na novela “Lado a Lado” que a transformista ganhou destaque e prestígio com a sua atuação. Na trama, ela dá vida a Alzira, uma mulher cisgênero, um verdadeiro marco, uma vez que até os dias de hoje os atores trans enfrentam dificuldade para conseguirem papéis de pessoas cisgêneros e muitas vezes nem os papéis de pessoas trans são dados a eles.

Durante toda a sua vida artística, Rogéria participou de inúmeros programas de TV como na Hebe, Chacrinha, Viva a Noite e inúmeros humorísticos como Sai de Baixo e Zorra Total. Por conta de sua visibilidade e aceitação ficou conhecida como a travesti da família brasileira.

Amor à vida (2014, Globo)

O tão esperado primeiro beijo gay da TV brasileira aconteceu no último capítulo de “Amor à Vida”. Na penúltima cena da trama, Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) estão na casa da família na praia quando finalmente dão um beijo. A cena entra para a historia não apenas por ser transmitida no horário nobre da Globo, mas também pelo recorde de audiência que registou 48 pontos no Ibope, o que representa mais de 3 milhões de telespectadores.

Babilônia (2015,Globo)

Estela (Nathalia Timberg) e Teresa (Fernanda Montenegro)

Após o sucesso de “Amor à Vida”, a Globo pensou que seria o momento de dar um próximo passo. Ao invés de esperar uma novela inteira para mostrar o beijo de um casal homoafetivo, logo no primeiro capítulo, Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) se beijam. A cena chocou o público mais conservador e gerou uma rejeição imediata ao casal. Além da homofobia, pesou o fato das personagens serem da terceira idade, revelando os múltiplos preconceitos dos telespectadores. Um marco da rejeição, que embora não tenha sido bem recebido pelo público, abriu uma pertinente reflexão na sociedade sobre velhofobia, mostrando que sim, pessoas idosas podem sim se relacionar, se descobrirem e demonstrarem afeto.

Liberdade, Liberdade (2016, Globo)

André(Caio Blat) e Tolentino (Ricardo Pereira) em Liberdade. Liberdade

Os atores Caio Blat e Ricardo Pereira protagonizaram a primeira cena de sexo em “Liberdade, Liberdade”. As personagens, André e Tolentino, se rendem à atração que sentem um pelo outro e, pela primeira vez em uma novela brasileira, o telespectador descobre que sim, gays também fazem sexo. Uma cena extremamente recorrente entre casais heterossexuais nas novelas brasileiras, que só em 2016 teve a sua representatividade entre homossexuais.

A Força do Querer (2017, Globo)

Carol Duarte como Ivan

Ivan é o 1º personagem transgênero de destaque em uma novela e acompanha a transformação de Ivana em Ivan. Na trama, os telespectadores são apresentados aos conflitos que a personagem precisa enfrentar na família e na sociedade para se assumir como um homem transgênero.

Ivana (Carol Duarte) não se identifica com seu corpo e suas roupas o que acaba gerando uma série de brigas com sua mãe que sempre sonhou em ter uma filha patricinha. Toda a sensação de inadequação de seu corpo e dos esteriótipos que a sociedade espera que uma mulher vista e seja são apresentados, humanizando a personagem e fazendo o público entender o drama que é ser transexual em nossa sociedade.

Em uma cena intensa, Ivana revela aos pais que “sempre soube que não era uma mulher”, corta os cabelos e pede apoio do pai para fazer uma cirurgia de retirada dos seios. A personagem foi amplamente bem recebida pelo público e atriz ganhou vários prêmios por sua primorosa atuação.

O Sétimo Guardião (2018, Globo)

Nany People como Marcus Paulo em O Sétimo Guardião

Nany People estreou na dramaturgia da Rede Globo em “O Sétimo Guardião”, após anos de trabalhos no teatro a atriz interpretou Marcos Paulo, uma cientista transexual que deseja manter o seu nome de registro. Essa decisão que na verdade é uma homenagem a lendária transformista Rogéria que manteve em seus documentos o nome Astolfo Pinto, foi motivo de críticas por parte da comunidade LGBTQIA+ que não receberam bem a personagem.

Segunda Chamada (Globoplay, 2019)

Linn da Quebrada em Segunda Chamada

Na fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus se desdobram rotinas particulares e dramas individuais, a artista Linn da Quebrada é destaque no papel da jovem Natasha, ela é uma travesti que busca fazer valer seu direito de estudar e se formar, como qualquer pessoa, e luta diariamente para afirmar seu lugar na sociedade contra toda a discriminação, inclusive dentro do colégio.

A Dona do Pedaço ( 2019, Globo)

Glamour Garcia como Britney em A Dona do Pedaço

A inclusão é uma bandeira levantada por Walcyr Carrasco em muitas de suas novelas. Em “A Dona do Pedaço” o autor abordou a transexualidade, em horário nobre. Através da personagem Brtiney (Glamour Garcia) que retorna depois de um tempo a sua família já transicionada.

Gostaram da nossa lista? Sentiram falta de algum momento que foi marcante para vocês? Deixem suas opiniões em nossos comentários!

Sobre Nelson Granja

Paulistano. Formado em Comunicação Social. Já fiz de tudo um pouco nesta vida e ainda tem muita novidade para aprender. Admiro todas as formas de expressão cultural, mas são as artes visuais (Cinema, Teatro, TV, Séries, Artes Plásticas e Fotografia) que me fascinam. Sou G no LGBTQ+