Conheça a história de Justin Fashanu, o primeiro jogador de futebol que declarou publicamente ser gay

Documentário disponível na Netflix intitulado “Forbidden Games – The Justin Fashanu Story”, conta a trajetória trágica do atacante declaradamente homossexual

O documentário “Forbideden Games: The Justin Fashanu”, relata a história de Justino Soni Fashanu, mais conhecido como Justin Fashanu, uma celebridade do futebol que quebrou grandes tabus nos anos de1980 e 90. Mesmo diante do conservadorismo rigoroso inglês da época, o primeiro jogador preto, britânico a ser transferido para outro time por 1 milhão de libras, foi também o primeiro a assumir publicamente sua homossexualidade.

Tudo isso em um pais no qual não era crime o ato de racismo e a homossexualidade era legalmente condenada.

Além de muita perseguição causadas pelo racismo e homofobia o jogador teve uma vida muito conturbada o que resultou em uma das histórias mais triste da história do futebol.

História de Justin Fashanu

Nascido no dia 19 de fevereiro de 1961, em Hackney na Inglaterra, Justin Fashanu e seu irmão John foram abandonados, primeiro por seu pai quando bebês e depois deixados em um orfanato por sua mãe. Posteriormente, foram adotados por uma família branca que morava em Norfolk. Justin e seu irmão, para se ter uma ideia, eram os únicos pretos na cidade nos anos de 1970.

Em sua adolescência, foi destaque jogava no time de sua escola e ganha notoriedade no futebol. Com apenas 17 anos de idade, já jogava no time principal do Norwich passando depois por outros times como o Nottingham Forest e o Manchester City.

Era chamado de “macaco” durante os jogos e atingido por bananas arremessadas em sua direção. Justin não tinha como recorrer as denúncias devido a não criminalização do racismo. No entanto, o jogador ganha notoriedade na temporada 1979/80, já na equipe profissional e premiado como autor do melhor gol da primeira divisão inglesa.

Fashanu percebe o futebol como uma ferramenta de empoderamento social “O Futebol serve para mostrar como somos relevantes para a sociedade”, declarou.

Devido ao seu ótimo desempenho e habilidades, marcando 40 gols em 103 jogos da rodada de 1981, tornou-se alvo de interesse do Nottingham Forest, time que tinha acabado de vencer duas vezes seguidas a Champions League em 79 e 80. O time o contrata pelo valor 1 milhão de libras, considerado altamente relevante para época, tornando-se o primeiro jogador preto mais bem pago do futebol inglês.

Jogando em um dos melhores times do pais, comandado pelo melhor técnico da Inglaterra, Fashanu é manchete em vários jornais e ganha reconhecimento mundial.

O início do declínio de sua carreira

Seu desempenho no Nottingham Forest não foi o mesmo dos tempos de Norwich, pois havia muitos atritos com seus colegas de time e com o treinador. O relacionamento só piorou quando boatos surgiram de que o jogador era frequentemente visto em bares e boates gays.

Sua carreira no Forest foi rapidamente suspensa por conta das suspeitas de homossexualidade e foi vendido ao time rival, Notts County em 1982.

Aos 29 anos Justin decide falar abertamente sobre sua sexualidade e combina uma entrevista exclusiva com o tabloide sensacionalista The Sun. Seu irmão, John, que na época, começava a ganhar espaço no futebol, fica com receio de que sua carreira ser comprometida com a revelação do irmão e oferece 100 mil libras para que ele desistisse da entrevista, 30 mil libras a mais do que o jornal ofereceu para a exclusividade da notícia.

Justin recusa a proposta do irmão, assume publicamente ser gay e afirma ter tido relações com um parlamentar do partido conservador. Foi capa do jornal com a machete, “Estrela do futebol de 1 milhão de libras: Eu sou gay”.

Sua atitude corajosa de se revelar gay e bater de frente com um tabu afetou diretamente sua carreira profissional. Sua vida pessoal passa a ser ainda mais exposta nas manchetes e é muito mal visto pela sociedade.

O fim trágico

Justin passa então a jogar somente em clubes menores e não consegue mais ter sucesso em nenhum time. Decide então morar nos Estados Unidos, onde estava no caminho de se tornar treinador de uma nova equipe em processo de fundação. Até que em 1998, é acusado de estupro por um jovem de 17 anos em um estado que a homossexualidade era considerada crime.

Depois de ser interrogado pela polícia e ter negado a acusação de estupro, o jogador fugiu para a Inglaterra e um mês depois foi encontrado morto em sua residencia.

Em uma carta, explicou que sabia que por ser gay, seu julgamento não seria justo, deixou claro que não estuprou o jovem e não queria mais ser uma vergonha para a sua família.

“Eu percebi que já havia sido considerado culpado. Não quero mais ser uma vergonha para minha família e meus amigos. Ser gay e uma personalidade é muito difícil, mas não posso reclamar disso. Queria dizer que não agredi sexualmente o jovem. Ele teve sexo consensual comigo e, no dia seguinte, me pediu dinheiro. Quando eu recusei, ele falou ‘espere e você vai ver só’. Se esse é o caso, eu ouço vocês dizerem, por que eu fugi? Bom, a Justiça nem sempre é justa. Senti que não teria um julgamento justo por conta da minha homossexualidade.” Declara Fashanu em sua carta.

Após sua morte, Justin Fashanu teve um time criado em seu nome, o “Justin Fashanu All-Star”, que busca facilitar a inclusão de homens assumidos gays dentro do futebol. Além disso o time Norwich, tem uma torcida LGBT que sempre faz homenagens a Fashanu, batizada de ‘Proud Canaries’ (Canarios Orgulhosos em tradução literal).

Assim como reconhecido por Fashanu, “o esporte é uma forte ferramenta de mudança social, porém a falta de consciência e alienação infelizmente não permitem que tais mudanças ocorram com facilidade.”

Confira o trailer:

Sobre Bianca Colluci

Graduanda em Jornalismo e nas batalhas da vida. Adora o aleatório, se apaixona pelo simples e se encanta em registrar momentos. Engajada nas lutas contra as desigualdades, semeadora do amor ao próximo e sempre pronta para o novo.