RESPONSABILIDADE AFETIVA: BREVE MANUAL DE COMO NÃO SER BABACA

Episódios famosos de fim de relacionamentos como o do cantor Gusttavo Lima e Andressa Suíta levantam uma pertinente discussão sobre a responsabilidade afetiva que devemos ter com nossos parceiros e ex parceiros

Pouco podemos fazer em relação ao fim do casamento entre Gusttavo Lima e Andressa Suíta, mas dá pra aprender a melhorar nossas próprias relações. Seguem algumas dicas de como não ser você o babaca dos seus relacionamentos.

Se você chegou neste texto buscando se tornar uma espécie de alecrim dourado e nunca mais ser babaca com ninguém, eu tenho uma péssima notícia pra você: não importa quão boa sejam nossas intenções e propósitos no mundo, eventualmente iremos magoar alguém e não tem jeito de escapar disso. Mas, é possível minimizar os danos e é sobre isso que quero conversar aqui com vocês.

O jovem de hoje adora largar no feed a famosa frase: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas e dizer que isso é responsabilidade afetiva. E não é que esteja errado, meu caro leitor de Exupéry, mas não se trata apenas disso. Então a primeira coisa que a tia vai fazer hoje é explicar para vocês o que essa é coisa de ‘responsabilidade afetiva’.

Para nossa lição de hoje iremos usar como exemplo a polêmica separação de Gusttavo Lima e Andressa Suíta, baseados nas informações divulgadas por eles mesmos nas redes sociais. Primeiramente, isso aqui não se trata de uma defesa da manutenção de relações que não te fazem mais feliz, apenas pelo medo de magoar seu parceiro. Nas relações humanas é impossível e absolutamente desnecessário tentar agradar a todos o tempo todo (alô Ana Suy, estou te dando créditos) e é preciso compreender isso. Então sim, Gusttavo tem absolutamente todo o direito de colocar fim a uma relação que não o satisfaz mais e ponto.

Onde o trem pega é justamente a maneira que ele escolheu para fazer isso. Segundo divulgado pela Andressa, ela foi acordada de madrugada para ser comunicada do fim do casamento. Ela assume que a relação tinha alguns problemas, mas segundo ela questões corriqueiras de qualquer casal e que não houve comunicação prévia da parte dele sobre o que o incomodava, nem para que ela tentasse corrigir o que quer que ele considerasse problemático na relação.

Gostaria de abrir um pequeno parêntese aqui sobre essa pontuação da Andressa. Acho dificílimo que em uma relação a dois, um esteja infeliz sem que o outro perceba. É possível e acontece com muita frequência que o parceiro não COMUNIQUE VERBALMENTE sua insatisfação, mas isso não quer dizer que ele não esteja comunicando nada. Enquanto a comunicação verbal é claramente a maneira mais eficiente de se fazer compreender, se você não está notando as diferenças em relação a você que seu parceiro demonstra, então provavelmente não é apenas ele o problema. Mas isso fica para outro texto.

Mas vamos fingir que o Gusttavo Lima é um ator melhor que a Fernanda Montenegro e que ele realmente não deixou transparecer em nenhum momento que estava infeliz. O primeiro erro consiste justamente nisso aí. É preciso que aprendamos a comunicar nossos sentimentos em relação às outras pessoas e situações na nossa vida. Não podemos esperar que os outros interpretem nossos sinais.

Responsabilidade afetiva não é uma missão de fazer o outro feliz o tempo todo. É sobre compreender que ali existe uma pessoa inteira, com sentimentos e expectativas, e qual nossa responsabilidade sobre o que causamos ao outro. É sobretudo um pacto de honestidade e consideração em relação aos sentimentos alheios e aos nossos próprios.

Eu compreendo que muitas vezes as pessoas se deixem levar pelas emoções e fazem grandes promessas umas as outras, quase sempre impossíveis de cumprir. E enquanto isso não é exatamente o ideal, mais problemático ainda é não comunicar quando se nota que não se pode mais cumprir o que prometeu. Eu acredito que houve um momento na relação entre Gusttavo e Andressa, em que eles realmente imaginaram que o amor e a felicidade fossem perdurar para sempre e prometeram estar sempre juntos, baseados no sentimento real que nutriam um pelo outro naquele momento. Infelizmente calhou de os sentimentos mudarem para o Gusttavo e isso é perfeitamente ok. Ninguém controla como se sente. Mas ele poderia tê-la deixado saber de forma clara que algo não ia bem. Amar e desamar são um processo, não acontece de uma hora para outra. Deixar de comunicar ao outro suas insatisfações é permitir que ele permaneça iludido com promessas que você já sabe que podem não se cumprir. É impedir que se possa trabalhar juntos no problema. É cruel continuar nutrindo sentimentos que você já sabe que morreram.

E veja bem, isso ainda é bem menos cruel do que propositalmente mentir a uma pessoa sobre intenções e sentimentos que nunca existiram, apenas com o objetivo de conseguir alguma vantagem. Meu anjo, se tudo o que você quer com alguém é algo casual, avise. Você pode sim fazer sexo sem compromisso, mas a outra pessoa precisa estar ciente disso.

Marcou um date e desistiu de ir? Avise. Foi no date, transou e a química não foi lá essas coisas? Não bloqueie a pessoa nas redes sociais e finja que nunca nem viu. Converse. Não precisa ofender o sujeito dizendo que achou que era ruim de cama, mas tenha consideração o suficiente para explicar que não vai rolar mais. Tá trocando ideia com alguém legal e de repente conheceu outra pessoa? Comunique, não suma de uma vez.

Nós sabemos que nunca é fácil romper com alguém, que algumas verdades não são lá muito palatáveis e que muitas vezes o caminho mais fácil é simplesmente desaparecer. Mas aí vai, talvez, a lição mais preciosa que minha avó me ensinou: não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você. Ter isso em mente já nos ajuda muito.

É claro que ainda iremos errar e magoaremos pessoas legais. Isso não é sobre ser perfeito e agradar todo mundo, nem sobre suprir as expectativas dos outros em relação a nós mesmos. É sobre entender que é possível minimizar os danos que causamos em outras pessoas sendo honestos em nossas intenções e sentimentos. Já tem gente babaca demais nesse mundo, nós não precisamos ser uma delas.

Sobre Caroline Ariel

Psicóloga, feminista, cacheada e mineira. Não necessariamente nessa ordem. Uma vida dividida entre o café e a cevada. Adoro cozinhar, bordar e, neste momento, customizar roupas. Eterna otimista.