Hebe | Filme destaca o lado humano da apresentadora que sempre defendeu os LGBTs

Protagonizado pela atriz Andrea Beltrão o longa “HEBE – A Estrela do Brasil” estreia nesta quinta (26) nos cinemas.

Dona de um carisma natural e de uma expontaniedade que esta em falta nos dias de hoje, a apresentadora Hebe Camargo ganha a sua primeira e merecida cinebiografia em um filme que escolhe contar a trajetória da rainha da TV durante a década de 80.

Ao escolher este recorte específico e ignorar todo o passado da vida da apresentadora, que inclui trabalhos como cantora, radialista, humorista e atriz, o longa acerta ao não se tornar um filme raso que tenta falar um pouco de tudo sem se aprofundar em nada, mas também perde ao não revelar quais são as motivações e os episódios que lapidaram essa mulher que se tornou uma verdadeira lenda viva da TV.

Quem for ao cinema assistir “HEBE – A Estrela do Brasil” irá se deparar com uma figura de personalidade forte que no alto de seus 60 anos não aceita ser apenas um produto que vende bem na tela da TV. Mais do que isso, ela já não suporta ser uma mulher submissa ao marido, ao salário, ao governo e aos costumes vigentes.

Sem maiores rodeios a trama já começa mostrando uma Hebe humana, defendendo o direito de levar seus convidados LGBTs ao seu programa e disposta a lutar pelo que considera certo. Em pleno período de abertura política do país, na transição da ditadura militar para a democracia, Hebe aceita correr o risco de perder tudo que conquistou na vida ao defender LGBTs, artistas e o seu público que era taxativamente enganado pelos políticos, dos quais ela não poupava críticas.

O filme se divide entre mostrar momentos icônicos da carreira da apresentadora e os bastidores do programa e da sua vida pessoal que revelam conflitos famíliares e uma figura doce que não distinguia pessoas por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Uma personagem tão cativante que quando o filme escolhe mostrar subtramas como os conflitos entre o filho dela e o marido, o espectador fica entediado e desejando o retorno da personagem título.

Em uma das passagens mais bonitas do filme, Hebe aparece cruzando os corredores de um hospital público decadente para visitar seu amigo gay vítima da AIDS. A cena mostra suas roupas e jóias que contrastam com a calamidade do lugar que acumula pessoas jogadas pelos cantos. A mercê de críticas por parte dos conservadores e sem o beneficio do que conhecemos hoje como “pink money”, a apresentadora aparece defendendo por mais de uma vez os LGBTs de forma incisiva, corrigindo até mesmo seu próprio marido quando este incorria em comentários transfóbicos.

Para se ter uma noção do quanto a Hebe se arriscava ao defender os LGBTs, a apresentadora chegou a se recusar a fazer o seu porgrama se não pudesse levar seus convidados LGBTs. E após largar a Bandeirantes por conta da falta de liberdade que tinha em seu próprio programa, só aceitou migrar para o SBT depois de garantir que teria um porgrama “do seu jeitinho”.

Várias figuras conhecidas do grande público marcam presença no longa, tais como: Silvio Santos, Dercy Gonçalves, Roberta Close, Nair Belo, Roberto Carlos, Chacrinha, entre outros… Um dos pontos mais questionáveis da trama é a caracterização da personagem Hebe vivida por Andrea Beltrão, que visualmente custa a ser aceita pelo público haja vista a notável falta de semelhança entre a atriz e a apresentadora.

Outro ponto muito marcante da apresentadora, a voz, também não se aproxima do real e alguns trejeitos da personagem como um constante piscar de olhos soa caricato. Isso porque tais trejeitos que a Hebe de fato ganhou com o tempo não condizem com o momento em que ela esta sendo retratada no filme. A prova disso esta no programa “Roda Viva” onde a apresentadora da sua famosa entrevista em um momento posterior do que é retratado no filme. É possível notar que ela ainda não apresenta os trejeitos caquéticos que Andrea Beltrão colocou em sua personagem.

Mesma custando a reconhecer a Hebe no trabalho de Andrea Beltrão, é possível se emocionar e rir com o filme. Talvez a pegunta que a maioria faça ao ver a obra e constatar a irreverência e o senso de humanidade da apresentadora é: “O que estaria a Hebe falando hoje em seu programa com o país do jeito que esta?”

A resposta a essa pergunta é o próprio filme, que nos lembra de alguns valores que se perderam no tempo, mas que se tornam imortais graças a sétima arte.

Confira o trailer do filme:

Sobre Emílio Faustino

Formado em jornalismo, atua na área há mais de 15 anos. Amante da sétima arte, no YouTube apresenta o canal EmpoderadXs onde entrevista atores, diretores e ativistas. Atuou em empresas como Rede Globo e UOL, sempre com enfoque em cultura e ativismo. É diretor executivo e fundador do site EmpoderadXs, onde promove a união de minorias sociais e realiza seu sonho de dar voz para quem precisa.