Gordo Plus Size Canada's Drag Race

Canada’s Drag Race | 1º integrante “não padrão” do Pit Crew levanta debate sobre gordofobia

O modelo egípcio Mina Gerges quebrou uma importante barreira ao aparecer na equipe do programa em um lugar que antes só contemplava corpos padrões

A franquia Drag Race sempre nos presenteou com casts incríveis de drag queens com personalidades marcantes e looks icônicos temporada pós temporada, mas não é somente isso que nos faz fixar os olhos na tela durante os 45 minutos do programa.

Conhecida como Pit Crew, a equipe de suporte de Drag Race é composta por homens com corpos que deixariam qualquer deus grego com inveja. Homens sarados, peludos, lisos, altos, baixos, fortes, esguios, brancos, negros – tem pra todos os gostos. Bem, quase todos.

Quando se trata de tom de pele, a equipe do Pit Crew nos banhou com um bom leque de diversidade. Porém, quando se trata de tipos de corpos, vemos claramente o reflexo dos padrões masculinos típicos adotados pela comunidade gay: a glorificação do homem super sarado, com abdômen trincado e percentual de gordura tendendo à zero.

Em um mundo que pouco faz questão de se adaptar a corpos gordos e em uma sociedade que institucionaliza o preconceito contra essas pessoas, a ausência de representatividade em um grupo como esse na TV só reforça os desafios diários enfrentados por pessoas acima do peso.

Basta pessoas gordas saírem de casa para saber que vão encontrar pela frente desafios de todos os tipos: transporte público, lojas, restaurantes e outros ambientes que não estão preparados para recebê-las. Ainda pior: sabem também que vão ser alvo de piadas, julgamentos, comparações e ouvir de muita gente que precisam emagrecer. Afinal, o que é belo é o estereotipado na TV pelo grupo de homens que instigam desejo.

E, quando se é um homem gay, cercado de adoradores do culto ao padrão, viver num corpo gordo complica ainda mais como uma pessoa vivencia sua sexualidade e expressão de gênero. Muitas pessoas gordas têm dificuldade para se abrir para o sexo e sexualidade por causa das mensagens de ódio a respeito de seus corpos – que a gordura é feia, nojenta, suja, nada atraente e sinônimo de falta de saúde.

Quando Mina Gerges, modelo egípcio plus size, entrou na workroom durante um episódio de Canada’s Drag Race (spinoff canadense da franquia), o burburinho na internet começou. Entre elogios, agradecimentos, críticas e comentários preconceituosos, os fãs da série definitivamente perceberam que já era hora do Pit Crew apresentar corpos gordos e quebrar o preconceito de que beleza está associada diretamente à falta de gordura.

O modelo, que também é ativista LGBTQIA+, já estampou comerciais da Calvin Klein e Sephora. Hoje, Mina usa suas redes sociais pra promover debates sobre o combate à gordofobia e incentivo à aceitação de todos os tipos de corpos.

Aqui vão uns lembretes para você neste verão e em todos os outros: ⁣⁣⁣⁣
⁣⁣⁣⁣
Todo corpo é um corpo de praia⁣⁣⁣⁣.
Suas curvas e estrias são lindas.
Compre o maiô que você quer, garanto que ficará incrível em você.⁣⁣⁣
Não existe um “ângulo infeliz”, então sente-se do jeito que você quiser e aproveite a praia.

Entendido? Ok ótimo, obrigado.

Mina Gerges, em seu Instagram.
https://www.instagram.com/p/CCee5pYnq8B/

Em entrevista ao site da revista OUT, ele contou como foi participar do processo de seleção para o Pit Crew e também da campanha da Calvin Klein, a mesma da qual faz parte Pabllo Vittar

Como você foi escalado para o Pit Crew?

O processo de elenco foi definitivamente estressante. Entrar em uma sala cheia de caras que se parecem com um típico Pit Crew junto comigo, sendo eu o único com um corpo maior e sem tanquinho, foi definitivamente intimidador. Eu tive que ir ao banheiro e me lembrar que não sou menos atraente só porque sou maior e não tenho tanquinho. Quando superei essas inseguranças na minha cabeça, senti-me realmente empoderado para ocupar esse espaço e mostrar que meu corpo não era menos digno de ser celebrado.

Depois que terminei a audição, fiquei muito orgulhoso de mim mesmo, porque desenvolvi um distúrbio alimentar aos 19 anos porque queria parecer com esses caras que estavam na sala de audição comigo. Especialmente na comunidade gay, quando corpos musculosos são colocados em um pedestal sobre todos os outros tipos de corpos. Enquanto eu tinha momentos de dúvida, eu realmente não me sentia menos bonito ou digno só porque meu corpo era maior.

Você sabia na época que você era o primeiro membro de tamanho grande da tripulação? Isso levou você a querer fazer isso?

Quando me perguntaram durante a audição por que eu queria fazer parte do pit crew, eu disse que a equipe tem homens cujos corpos são considerados atraentes e celebrados em nossa comunidade. O Pit Crew é visto como o epítome do que é desejável, o corpo que todo homem gay deve aspirar ter a qualquer custo. É o padrão de beleza tóxico que está profundamente enraizado em nossa comunidade. Mas eu ter estrias, gordura no corpo e pneuzinhos não me tornam menos atraente. E eu acho incrivelmente importante mostrar que a beleza não se parece com um determinado tamanho e que tem várias formas e tamanhos.

Sempre penso em que tipo de corpos e mensagens eu precisava ver quando jovem garoto gay que odiava desesperadamente seu corpo em busca desse ideal de beleza gay. Isso me machucou muito ao crescer, e eu queria fazer algo a respeito, à medida que cresci e aprendi a ter confiança na minha pele. Então, eu não sabia que seria o primeiro membro de tamanho grande da Pit Crew, mas sabia que precisava estar lá para que os jovens gays que assistissem ao programa pudessem ver um corpo maior, estrias e aprender para serem mais gentis consigo mesmos.

Você é um fã de longa data de Drag Race ? O que você acha da versão do Canadá até agora?

A primeira temporada de Drag Race que assisti foi a sexta, me apaixonei por Bianca e Adore e me apaixonei pelo programa desde então. Eu amo a versão do Canadá, acho que o talento canadense sempre foi esquecido e é incrível ver tantas rainhas que torcemos em nossos clubes locais obter todo o reconhecimento que merecem.
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Seu trabalho em advocacia geralmente é sobre identidade, certo? Você pode falar sobre sua importância?

Eu cresci no Egito, um país onde é ilegal estar na comunidade LGBT. Como imigrante, membros da comunidade árabe não me aceitam porque sou gay. Eu sempre lutei para encontrar meu lugar neste mundo. Quando você está fora do seu país de origem, mas sabe que não seria seguro morar lá, e deseja entrar em contato com sua herança, mas sua própria comunidade o apaga – faz você sentir que sua identidade não é válido e sua vida não vale a pena viver. Eu cresci sendo tão conflituoso com minha identidade, minha religião, minha sexualidade, minha expressão de gênero. Tive que desaprender muita imundície que me ensinaram a sentir sobre quem eu sou apenas para poder me olhar no espelho. Agora, sou uma pessoa orgulhosa e alegre de gênero gay, e tudo o que faço no meu trabalho hoje é recuperar minha cultura e minha herança da homofobia e intolerância que está nela enraizada.

Você teve um grande ano em que também fez uma campanha com Calvin Klein este ano , certo? Como foi isso?

Trabalhar com Calvin Klein foi incrível. Eu trabalhei muito duro para redefinir os padrões de beleza masculina que me fizeram odiar meu corpo crescendo. E até hoje, a comunidade árabe queer não tem representação na moda ou na cultura pop, e eu realmente quero mudar isso. Trabalhar com uma marca icônica como Calvin Klein me deu a oportunidade de fazer as duas coisas: trazer visibilidade sem precedentes para a comunidade árabe queer e mostrar que homens maiores merecem um lugar na indústria da moda e podem reservar uma campanha global da Calvin Klein !!!

Sobre Ethan

DJ, produtor, YouTuber, profissional de marketing, queer, gamer, antifa, ativista LGBTQ+, coreógrafo de boate e agora também redator. Apesar de sarcástico, com um senso de humor duvidoso e personalidade forte; no fundo sou daqueles que dá colo pra quem precisa e luta com garras e dentes contra qualquer tipo de desigualdade e injustiça.