VIENEN POR MÍ | Dramaturga trans estreia peça que propõe metáforas com o corpo travesti em diferentes linguagens

Texto inédito no Brasil da dramaturga chilena Claudia Rodriguez VIENEN POR MÍ marca a estreia do primeiro solo da atriz Fabia Mirassos. A montagem, que tem direção de Janaina Leite, chega aos palcos dia 19 de agosto, sexta-feira, às 19h, na Sala Multiuso do Itaú Cultural.

Uma peça escrita por uma travesti com atuação de outra travesti. É assim que a atriz Fabia Mirassos define em poucas palavras VIENEN POR MÍ, monólogo que estreia dia 19 de agosto, sexta-feira, às 19h, na Sala Multiuso do Itaú Cultural. O texto da dramaturga chilena Claudia Rodriguez ganha direção de Janaina Leite e é um convite para contestar as autoridades de forma plural e cênica propondo metáforas que incluem o corpo travesti em diferentes linguagens, como poesia, performance, monólogo e stand-up.

VIENEN POR MÍ fala sobre pessoas trans em um texto-manifesto de poesia e denúncia para perturbar a autoridade vigente de forma rude e coreográfica. A peça – dividida em quatro atos – é um ensaio inesgotável entre arqueologia, maquiagem e filosofia travesti, que produz pontes entre imagens e textos de xamãs, deusas, virgens, santas e loucas, em um único corpo.

“É importante salientar que falar sobre pessoas trans é quase sempre falar de violência. Seja esta de cunho físico, psicológico ou verbal. VIENEN POR MÍ possibilita uma biografia travesti diferente daquelas que aparecem nos obituários dos jornais. Porque se trata de uma travesti escrevendo sua história enquanto vive. E isso é tudo que importa”, explica Fabia

Para a atriz, apesar de não ser uma história pessoal, VIENEN POR MÍ traz alguns atravessamentos, principalmente com a questão de dividir com o público como é ser travesti. “Com o texto da Claudia conclui que a forma como as travestis são tratadas no Chile é a mesma em que são tratadas no Brasil, o que leva a acreditar que são tratadas assim em qualquer lugar do mundo. É utópico – e ainda assim é possível – utilizar o teatro como meio capaz de tornar possível ouvir e enxergar travestis, pessoas, que na maioria das vezes, só são vistas como alvos de violências e violações.”

Ferramenta política

Fabia Mirassos já vem atuando com a temática LGBTQIAP+ desde 2017 quando estreou a montagem Pink Star, da Cia. Os Satyros e direção de Rodolfo Garcia Vasquez. Na sequência, a atriz engatou alguns sucessos nos palcos e telas, como Luis Antonio-Gabriela, da Cia. Mungunzá de Teatro e direção de Nelson Baskerville; Brian ou Brenda, direção de Yara de Novaes e Carlos Gradim e as séries Todxs Nós (HBO) e Nós (Canal Brasil).

O encontro com Claudia Rodriguez se deu quando Fabia fez a leitura do texto da dramaturga chilena dentro do projeto Histórias de Nossa América, do Coletivo Labirinto realizado virtualmente durante a pandemia. Na ocasião, a atriz teve conhecimento de que VIENEN POR MÍ foi escrito devido a necessidade da autora em contar suas histórias, mas não ter onde e nem para quem. “Como a leitura dramática era virtual, a Claudia assistiu e logo após a apresentação já trocamos algumas impressões. O pedido para encenar o texto no Brasil aconteceu logo depois”, conta Fabia.

Claudia Rodriguez incentiva no Chile a biografia de travestis, transgêneros e transexuais, fazendo disso uma ferramenta política. A ativista também trabalha na conscientização das doenças sexualmente transmissíveis e juntou todas essas experiências na construção do texto.

A dramaturgia é um recorta e cola de diferentes gêneros textuais, assim como a própria travesti. Que, muitas vezes, é recortada e colada. Do seu corpo, da sua história, da sua família ou casa. “VIENEN POR MÍ também é isso, um copia e cola de narrativas com o intuito de construir uma biografia LGBTQIAP+ e ocupar um lugar de fala que até então lhes foi silenciado. Dizer por quem ainda não havia dito nada”, revela a atriz.

Encenação minimalista

Referência em teatro documental e autoficção no Brasil, Janaina Leite assina a direção de VIENEN POR MI. Com uma encenação minimalista, onde o público ficará próximo da cena, a diretora foca nos espelhamentos e diferenças entre o texto e as vivências pessoais da atriz Fabia Mirassos.

“Apesar de abordar temas inquietantes e urgentes, a montagem não é denuncista. A ideia é se apropriar da delicadeza para dar voz ao discurso da transexualidade e falar de outras coisas inerentes ao humano, como desejo, alegria, humor e potência”, adianta Janaina.

Com recortes de expressões e do corpo da atriz Fabia Mirassos, o desenho de luz de Aline Santini é um aliado do minimalismo proposto pela direção. Janaina Leite também propõe um tom ambíguo no espetáculo com a união das vozes de Claudia e Fabia. “As linhas de contradição desses corpos-manifestos aliadas a tensão do encontro de duas travestis de países diferentes são borradas pelas metáforas da dramaturgia e contundências da performance de Fábia, que circunscreve e presentifica as temáticas propostas.”

Serviço:
VIENEN POR MÍ
De 19 a 28 de agosto, sexta-feira e sábado às 19h e domingo às 18h.
Itaú Cultural – Sala Multiuso.
Av. Paulista, 149 – Bela Vista (próximo à estação Brigadeiro do metrô). Capacidade – 60 lugares.
16 anos | 60 minutos | Gratuito – reserva de ingressos pela plataforma INTI itaucultural-eventos.byinti.com/#/ticket/ (a partir de 10 de agosto, às 12h).
De 5 a 14 de setembro, segunda a quarta-feira, às 20h.

Teatro de Contêiner Mungunzá.
Rua dos Gusmões, 43 – Luz (próximo à estação Luz do metrô). Capacidade – 99 lugares.
16 anos | 60 minutos | Ingresso consciente (o público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar esta experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira)

Sobre Emílio Faustino

Formado em jornalismo, atua na área há mais de 15 anos. Amante da sétima arte, no YouTube apresenta o canal EmpoderadXs onde entrevista atores, diretores e ativistas. Atuou em empresas como Rede Globo e UOL, sempre com enfoque em cultura e ativismo. É diretor executivo e fundador do site EmpoderadXs, onde promove a união de minorias sociais e realiza seu sonho de dar voz para quem precisa.