Goleira brasileira de handbol conta como é viver com medo sendo lésbica na Rússia

Mayssa Pessôa, goleira do Rostov-Don (time de handbol da cidade), relata como é conviver com o pavor devido sua sexualidade, nacionalidade e estilo de vida.
A cidade de Rostov-on-Don, palco de estreia da seleção na Copa do Mundo, vem recebendo muito bem turistas brasileiros que viajaram até o local para assistir o jogo contra Suíça, no domingo(17). Os brasileiros aproveitaram para fazer festa pelo aeroporto e beber muita cerveja pelo centro, todos em clima de festa para ver Tite e companhia. Porém a realidade nem sempre é essa e acaba por perturbar quem vive dentro das minorias. Mayssa Pessôa, golera do Rostov-Don (time de handbol da cidade), relata como é conviver com o pavor devido sua sexualidade, nacionalidade e estilo de vida.
“Não é fácil, não. É machismo, preconceito, tudo. Olham torto por eu ser estrangeira, por ter tatuagem, por ser lésbica”, descreve Mayssa. “Tenho medo de estar sozinha. Não saio só. Não vou, por exemplo, a um bar sem alguém comigo. Quando entro em um uber, em algum transporte, já fico séria, tento me impor. Eles são abusados”.
Mayssa também sofre com o preconceito do dono do time, Alexander Scriabin, que apesar de trata-la adequadamente, ele não esconde sua rejeição à homossexuais e pessoas LGBT+. A jogadora acaba por ter seu comportamento afetado pela sombra de Alexander.
“Eu só fui para Rostov porque eles realmente queriam muito, muito mesmo como atleta. O dono do clube não gosta de homossexual. Não esconde isso. Já falaram para eu nem pensar em me envolver com alguém[…] E tenho sempre que me preservar na rua, não pode sair uma notícia que fiz algo que desagrade eles[…]”.
Desde sua primeira passagem pelo país a goleira já sentiu que não seria nem um pouco fácil sua jornada.
“Me vaiaram e me xingaram de macaca. Acabei vendo na internet depois, imitavam o som do bicho. Isso justamente em um jogo contra o Rostov”, disse, citando seu atual clube. Na época Mayssa atuava com goleira no Dínamo Volgogrado, e ela também afirma, “Também sofri com isso na Romênia, lá em Bucareste, onde também cuspiram na minha cara. Um homem me chamou no bar, gritou ‘Pessôa, Pessôa’, e cuspiu. Eu corri atrás dele. Não aceito”, recordou, citando a passagem pelo CSM.
Mesmo após tudo isso, a goleira faz questão de ressaltar que a realidade na cidade que receberá a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo mudou após se tornar uma atleta local, em 2017. Será que essa é uma realidade de todos ou somente aos olhos de Mayssa?
“Não tenho nenhum problema atualmente em treinos e jogos. Todos sabem de tudo e me respeitam. A torcida é sempre muito querida, os outros dirigentes, minhas companheiras de time. E sempre me ajudam quando preciso. Gosto muito”, pontuou.
Porém Mayssa ressalta que o cenário de aceitação não ocorre em todos os lugares, diante a goleira, quando ela precisa sair à rua como mais uma moradora de Rostov, tudo muda.
“Onde eu vou, quando não me reconhecem, seja em um shopping, no bar, as pessoas já ficam me olhando. Julgam por causa das tatuagens. São bem preconceituosos com isso. Na rua, se pergunto algo e eles percebem que não falo russo, já tratam diferente. São chatos. Olham torto para você, desconfiado, com cara de reprovação”.
Mayssa afirma que “aprendeu a lidar”. Entre xingamentos, medo, rejeição e ataques online, ela não se intimida mais. Mesmo prevendo que o preconceito e o tratamento abusivo não irá mudar, Mayssa não pensa em deixar a Rússia.
“Me atacaram muito no Instagram já, muito. Xingavam. A maioria eram homens[…] Os russos ainda têm a cabeça muito fechada. E sinto que isso não vai mudar. É uma coisa antiga, cultural. Aprendi a lidar”, diz ela.
Via: UOL

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