Série “Eu Ví” dedica episódio para abordar a crueldade e violência da cura gay

Série documental famosa por trazer casos de assombrações, pactos demoníacos e abdução alienígena, explora em sua segunda temporada a assustadora realidade de quem viveu a tortura da cura gay.

No último dia 11 de outubro, entrou na grade de programação da Netflix a série de terror baseada em fatos reais Eu Ví (Haunted).

A série tem duração de 20 minutos por episódio e mistura relatos de quem vivenciou uma experiência traumática com dramatizações. Todos os episódios iniciam com um alerta ao telespectador afirmando que as histórias são verdadeiras.

Cercado por parentes e amigos em uma sala, como acontece em todos os episódios, o protagonista revela a esta íntima plateia a verdade que o assombra e a consequência destes acontecimentos em sua vida.

Ocorre que nem todos os capítulos tem o sobrenatural como explicação conclusiva. E são nos episódios com esta característica que “Eu Ví” entra em um território mais obscuro.

A primeira temporada traz casos de assombrações, pactos demoníacos e até mesmo abdução alienígena. A segunda segue a mesma temática com exceção do episodio de número 3, intitulado “Culto da Tortura.” A historia é tão perturbadora que há momentos que parecem esbarrar no exagero e coloca em duvida se a historia é real ou não.

Porém basta uma breve busca no Google para saber que “Culto da Tortura” é o primeiro episódio da série que se pode provar sem dúvida que é uma história muito real.

A história apresenta James Swift, sobrevivente do trauma de ter sido criado dentro de um culto cristão. Sua mãe ingressou, no inicio dos anos 70, na Igreja Mundial de Deus fundada pelo pastor evangélico Herbert W. Armstrong que apresentava um programa de TV chamado “O Mundo do Amanhã” (The World Tomorrow). A igreja comandada pelo Bispo Waldomiro no Brasil é uma dissidência distante da matriz estadunidense.

Quando Swift era adolescente, ele foi terrivelmente torturado, por membros da Igreja, para livrar seu corpo do “demônio gay” que o “possuía”. Os oficiais da Igreja classificaram Swift como gay antes mesmo que ele soubesse o que significava ser gay, tudo por causa de seu jeito efeminado e maneirismos e o sujeitou a longos trechos de total isolamento sem comida.

Sua mãe o molestou sexualmente na tentativa de fazê-lo reagir ao toque de uma mulher, que era uma maneira, indicada pela igreja, de realizar um “exorcismo” do “demônio gay”. Essa momento, em que a mãe masturba o filho em nome de Deus é o mais perturbador do episodio.

Quando Swift tinha 15 anos, ele foi enviado para um “campo de conversão”, onde ele foi exposto a banhos gelados de mangueira, mantido preso em uma gaiola, submetido a terapia de conversão por eletrochoque nos genitais e estuprado sistematicamente por homens da igreja para ser liberto de demônios.

Ele ficou lá por 17 semanas e, depois de voltar para seu lar abusivo, ele e seu irmão foram acolhidos por uma tia. A igreja foi dissolvida. O líder religioso Armstrong foi apontado como um pedófilo que molestou sua própria filha e o campo de conversão foi invadido e fechado.

Essa é a história contada no episódio. Aqui estão os fatos, e eles estão alinhados com a história de Swift.

A verdade dos fatos

Herbert W. Armstrong nasceu em uma família Quaker em Iowa em 1892 e passou os primeiros 30 anos de sua vida trabalhando em publicidade impressa. Foi quando ele e sua esposa se mudaram para o Oregon que se envolveram no movimento da “Igreja de Deus do Sétimo Dia” onde foi ordenado ministro. Armstrong se tornou um dos primeiros evangelistas de mídia quando iniciou um programa de rádio. Logo ele foi expulso da “Igreja de Deus do Sétimo Dia”, quando suas crenças se tornaram mais radicais.

Ele pregou nada além de profecias do dia do juízo final, proclamando Hitler e Mussolini como a besta e o falso profeta literal do Livro das Revelações. Ele acreditava ser um apóstolo dos dias modernos e que ele próprio era um prenúncio do retorno que se aproximava rapidamente de Jesus.

Armstrong mudou-se do Oregon para Pasadena, Califórnia, em 1946, para expandir seu alcance. Sua igreja renasceu como “Igreja Mundial de Deus” em 1968 e seu ministério cresceu rapidamente nos anos 70, graças ao seu programa de televisão “The World Tomorrow”. Estima-se que através da televisão, ele alcançou 20 milhões de pessoas através de 165 emissoras de TV (incluindo a mãe de James Swift).

Herbert W. Armstrong

Armstrong continuou a pregar sua mensagem apocalíptica ao longo dos anos 70, embora ele preferisse permanecer vago sobre as especificidades de quando o mundo terminaria. Tudo isso dependia da Segunda Guerra Mundial, quando ele começou seu ministério, na década de 1940, mas esse sermão evoluiu sobre uma Terceira Guerra Mundial que se aproximava e nunca chegava. Ele escreveu um livro sobre a paisagem infernal que seria o ano de 1975 e, em seguida, 1975 veio e se foi.

Os membros da “Igreja Mundial de Deus” não tinham permissão para comemorar nenhum feriado ou aniversário, pois estas datas faziam parte de uma tradição pagã.

Eles não tinham permissão para procurar médicos além de ossos quebrados. Armstrong exigiu que todos os homens não tivessem piercings e cabelos curtos, e que todas as mulheres tivessem cabelos compridos e estivessem livres de maquiagem. Era proibido fumar, assim como masturbação e roupas com adereços. Homossexualidade, casamento inter-racial e adultério eram definitivamente pecados, assim como o divórcio.

Não deveria surpreender ninguém que Armstrong, cuja primeira esposa morreu em 1967, se casou com uma mulher 47 anos mais nova que ele em 1977 e depois se divorciou dela em 1984. Foi durante esses processos de divórcio que sua esposa muito mais nova revelou o que sabia sobre a repugnante perversão sexual de Armstrong de abusar sexualmente de meninas.

A Igreja mantinha campos de concentração onde os adolescentes eram isolados e submetidos a vários tipos de tortura como forma de exorcismo. “Estudantes foragidos” relataram histórias de violência desenfreada e inúmeras alegações de abuso sexual, tanto de moças como de rapazes.

O ensino de Armstrong, conhecido como “Armstrongismo”, ainda vive através de várias religiões fragmentadas que foram formadas nos anos 90, quando a “Igreja de Deus Mundial” desmoronou e se segmentou através de outras denominações.

Parte dessa “filosofia religiosa” está impregnada em grande parcela das igrejas neopentecostais ao redor do mundo, onde é cultuado o apocalipse, os demônios e seu líder Satanás e fomentado o medo e o preconceito como forma de controle, lavagem cerebral e submissão de seus fiéis.

O sobrevivente James Swift é atualmente um autor de livros e assina seus trabalhos sob o pseudônimo de Sra. Fifi Frost, drag e ativista pela causa LGBT e na luta pela proibição da terapia de conversão. A história apresentada em “Eu Ví” foi contada anteriormente em seu livro biográfico.

Sobre Nelson Granja

Paulistano. Formado em Comunicação Social. Já fiz de tudo um pouco nesta vida e ainda tem muita novidade para aprender. Admiro todas as formas de expressão cultural, mas são as artes visuais (Cinema, Teatro, TV, Séries, Artes Plásticas e Fotografia) que me fascinam. Sou G no LGBTQ+