Empresa de Porto Alegre criou um financiamento coletivo para arrecadar fundos e tornar viável o funcionamento do negócio durante a pandemia
A primeira cervejaria criada e gerida por negros no Brasil sofreu ataques racistas na quinta-feira passada (23), após publicar uma campanha de incentivo nas redes sociais que iria auxiliar no funcionamento da empresa durante a pandemia.
Os comentários preconceituosos foram feitos na publicação da namorada do sócio e criador da empresa ‘Implicantes’. No post ela pede ajuda e divulga a campanha.
“Pessoal, quem puder apoiar e compartilhar, meu namorado tem a 1ª fábrica cervejeira negra do Brasil e está lutando para a cervejaria não falir. Desde a pandemia muitos eventos que eles vendiam cerveja foram cancelados”, comenta.
Após a publicação, frases como “cervejaria alemã negra, onde vamos parar”; “não sou negro, portanto não vou ajudar” e “vou comprar, mas se vier furada igual a Marielle eu não aceito”, fazendo alusão a vereadora assassinada por milicianos no Rio de Janeiro em 2018.
Diego Dias, 33, criou a ‘Implicantes’ junto de seu primo, Thiago Teixeira. Formado em designer gráfico, Dias mora em Tapes (RS) e conta que a cervejaria já tem dois anos no mercado.
De porte pequeno e com uma iniciativa totalmente voltada ao público negro, desde os slogans e rótulos das garrafas a empresa foi criada no dia 20 de novembro, dia da consciência negra no Brasil.
“A gente iniciou a representatividade no meio cervejeiro. Por conta disso, muitas portas foram fechadas para nós, infelizmente é um meio racista”, afirma Dias.
A primeira cervejaria gerida por pretos no país causou um certo desconforto. Os jovens empreendedores foram tachados como vitimistas e já tiveram que ouvir que cerveja não deve ser palco para política.
Mesmo trabalhando com delivery, o valor arrecadado para suprir os gastos da cervejaria, que passam de 20 mil reais, não foi o suficiente.
“Na cervejaria hoje nós temos sete pessoas, sendo ela uma empresa familiar. Meu irmão é mestre cervejeiro e meu primo fica na parte comercial. Antes da pandemia nós notamos que por conta dessas portas fechadas, a distribuição acabava sendo pequena e voltamos nossa estratégia para os eventos”, diz.
Desde o início da pandemia, comemorações de aniversários, casamentos, shows, foram cancelados e a empresa acabou ficando sem serviço.
Para sustentar os empregados e dar continuidade, o financiamento coletivo foi criado e nele, produtos exclusivos foram oferecidos em troca de uma colaboração.
“O estopim foi quando a namorada do Thiago fez uma postagem nas redes para o pessoal apoiar. Após essa publicação, as pessoas começaram a fazer uma ação orquestrada de racismo”, comenta.
Parte do valor foi atingido e eles já estão com novas metas, além de trazer novos produtos como forma de agradecimento a todos os apoiadores que surgiram após os ataques.
“Só quem é atacado com mensagem de ódio sabe o sentimento que gera, o ideal é a gente dar a volta por cima e ficar mais forte”, comenta.
As mensagens e comentários racistas foram arquivados e serão encaminhados para a justiça.