Em seu primeiro livro, Tabata Amaral defende maior participação feminina na política

Em “Nosso lugar: O caminho que me levou à luta por mais mulheres na política” a autora compartilha histórias pessoais e aponta a educação como maior ferramenta de mobilidade social

Chega às livrarias o primeiro livro de Tabata Amaral, Nosso lugar: O caminho que me levou à luta por mais mulheres na política. Na obra, publicada pela Companhia das Letras, a autora narra a trajetória excepcional que percorreu até se tornar, aos 24 anos, a segunda mulher mais votada do país nas eleições de 2018. Entrelaçando experiências pessoais e profissionais, ela conta a história dos pais, migrantes nordestinos, e da infância vivida na Vila Missionária, bairro de periferia de São Paulo, onde estudou até a sexta série do ensino fundamental.

Após alcançar medalha de prata em uma olimpíada de matemática, a estudante ganhou uma bolsa de estudos em um colégio particular. No trajeto de ida e volta, mais de três horas diárias no transporte público, além das dificuldades para se adaptar às diferenças curriculares entre o ensino público e privado. Tabata destaca o incentivo dos professores nessa época de transição, que chegaram a ajudá-la com as despesas com alimentação para ela permanecer na escola em tempo integral.

Após dezenas de medalhas em olimpíadas do conhecimento, ao fim do ensino médio, Tabata foi aprovada em Física na USP. Logo depois, recebeu a notícia de que havia sido aceita com bolsa integral nas universidades americanas de Princeton, Yale, Columbia, Cornell, Universidade da Pensilvânia e Harvard, instituição escolhida.

Em Harvard, viu seu interesse por ciência política crescer e durante as férias de verão fez uma série de estágios e trabalhos voluntários em outros países, inclusive no Brasil, onde passou uma temporada na Secretaria de Educação de Sobral, município do Ceará com destaque na atuação em políticas públicas voltadas à educação. Com honras máximas em ciência política e com um curso secundário em astrofísica, formou-se em 2012 com uma tese sobre os fatores políticos que impactam a educação pública em diferentes municípios brasileiros.
Ao rever a trajetória, autora afirma que o seu caminho é incomum para a maioria dos brasileiros e não deve ser encarado como regra. Segundo Tabata, tal reflexão já a acompanhava quando ela começou a desenvolver projetos voltados à educação pública. À medida que sua atuação na área crescia, surgiram os primeiros ataques em redes sociais e a propagação de fake news: “Com o tempo, aprendi que, para além da má-fé, esses ataques têm origem no machismo. Cada vez que me posiciono, algumas pessoas se apressam em apontar os supostos mandantes dos meus posicionamentos”.

Tabata expõe outras situações em que se viu diante do machismo, especialmente ao decidir entrar no campo político. Sobre o tema, a autora relata como esse processo se deu e compartilha os principais desafios enfrentados para o financiar a campanha e para ganhar confiança daqueles que duvidavam da possibilidade de uma mulher jovem – sem parentes políticos e sem nunca ter sido filiada a partido algum – ter chances reais de vencer uma eleição. Mais uma vez, a autora se posiciona como uma exceção em meio à desigualdade e defende ações efetivas para garantir maior representação política das mulheres.

Por acreditar que a candidatura é uma das formas mais potentes de participação política, Tabata dedica o último capítulo a mulheres que cogitam se candidatar futuramente. Em um breve manual, a deputada dá seis sugestões com base na própria experiência e no contato com outras candidatas.“Espero que elas sejam um ponto de partida para aquelas mulheres que, mesmo que de forma tímida, já questionaram se a política não seria o seu lugar”, conclui.

Em “Nosso lugar: O caminho que me levou à luta por mais mulheres na política”, Tabata partilha também histórias extremamente pessoais, como a luta do pai contra o alcoolismo e a dependência química, cujos efeitos o levaram à morte, quatro dias depois de a filha receber a notícia sobre o ingresso em Harvard, e uma experiência em que a autora correu um grande risco de vida. Além disso, destaca alguns dos momentos marcantes da sua trajetória, como quando conheceu o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e a ativista paquistanesa Malala Yousafzai.

Sobre Emílio Faustino

Formado em jornalismo, atua na área há mais de 15 anos. Amante da sétima arte, no YouTube apresenta o canal EmpoderadXs onde entrevista atores, diretores e ativistas. Atuou em empresas como Rede Globo e UOL, sempre com enfoque em cultura e ativismo. É diretor executivo e fundador do site EmpoderadXs, onde promove a união de minorias sociais e realiza seu sonho de dar voz para quem precisa.