Heteronormatividade | Como o machismo afeta as expressões de gênero da comunidade LGBTQIA+

Em meio a tantos padrões impostos por uma sociedade heteronormativa, um movimento em defesa da liberdade da expressão de gênero cresce continuamente em resposta à essa opressão

Já li em livros de biologia e sociologia que o medo é um dos maiores motivadores do ser humano. Definitivamente deve ser por isso que nós LGBTQ+ fazemos tanta coisa na vida, viu? Você sabe que faz parte da comunidade quando percebe que o primeiro grande medo a se enfrentar é a tal saída do armário. Somos bombardeados o tempo inteiro por estereótipos de como ser, como vestir, como agir e, sabendo que nos primeiros anos de nossas vidas essas informações vem diretamente da família que nos moldam de acordo com os mesmos, bate aquele pânico: como explicar pra sua mãe e/ou seu pai que o filhão que eles tanto criaram pra ser “o pegador” na verdade gosta de piroca?

Nesse momento tão fatídico e corriqueiro na vida de uma pessoa LGBTQ+ dá-se início a muitas inseguranças. A heteronormatividade imposta paira quase que como uma sombra sobre a nossa comunidade. Alguns morrem de medo de enfrentar essa imposição, e, outros, assim como animais noturnos, preferem se esconder e viver nessa sombra pra sempre. É comum ver LGBTQ+ que preferem evitar o conflito e viver uma vida “discreta”, escondendo da sociedade quem se é de verdade, assumindo posturas, expressões de gênero e comportamentos ditos como aceitáveis pelo tradicional. Outros, por outro lado, batem no peito em suas convicções e verdades dando início a um movimento em resposta à essa opressão sofrida.

A sociedade foi guiada e estruturada em comportamentos bases de períodos arcaicos tidos como aceitáveis com orientação para reprodução e preservação da espécie. Os mesmos foram perpetuados por tantos séculos por pura conveniência e controle social, afinal, é bem mais fácil de se conviver com quem se parece com a gente do que aceitar que somos todos diferentes e singulares, não é mesmo? A partir dessa ideia, extraímos alguns dos muitos problemas enraizados do comportamento heteronormativo oprimindo LGBTQ+: a gay afeminada só e chacota porque fomos ensinados que homem tem que ser associado diretamente a traços primais tidos como “viris”: grosseria, força bruta, típico “macho alfa”; a lésbica quando assume pra sua mãe sua sexualidade e vê que o maior medo da mãe na hora é imaginar a filha cortando o cabelo, jogando bola, cuspindo no chão e se afastando completamente do arquétipo feminino que a mãe tanto idealizava; entre outros.

É impossível datar efetivamente o início desse movimento de resistência, uma vez que a discussão acerca da sexualidade e identidade de gênero é tão antiga quanto a humanidade. Com o passar do tempo, lutas e manifestações políticas, portas se abriram pra que uma nova geração reforce a luta pelo fim da imposição da heteronormatividade. O que muitos enxergam como “querer ser diferente” na realidade é um grito de resistência. É entender que é necessário romper com padrões impostos para que o que é considerado normal seja o fato de que “ninguém é normal”. É necessário entender que isso é um movimento social revolucionário que deve ser incentivado inclusive por pessoas dentro dos padrões atuais para que as diferenças sejam aceitas e celebradas. É um movimento em prol da vida de pessoas que não vivem de acordo com o que lhe é imposto. É lembrar que o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo por puro preconceito – e que o preconceito tem sua base na não aceitação de diferenças.

Dá próxima vez que ver alguém se vangloriar por ser “discreto fora do meio” lembre-se dos assumidos, afeminados, pessoas trans, queers e todos os outros que dão a cara a tapa diariamente para que o avanço nos direitos políticos LGBTQ+ aconteçam. Valorize quem é a cara da nossa luta.

Sobre Ethan

DJ, produtor, YouTuber, profissional de marketing, queer, gamer, antifa, ativista LGBTQ+, coreógrafo de boate e agora também redator. Apesar de sarcástico, com um senso de humor duvidoso e personalidade forte; no fundo sou daqueles que dá colo pra quem precisa e luta com garras e dentes contra qualquer tipo de desigualdade e injustiça.