Dia Nacional do Documentário Brasileiro | Conheça 13 obras que dão voz as minorias sociais

Nesta sexta-feira (7) de agosto, é comemorado o dia do documentário nacional. Para celebrar a data, o Empoderadxs listou 13 extraordinárias obras que contribuíram na luta de seguimentos de nossa sociedade

Para alavancar a visibilidade de um gênero cinematográfico em que o Brasil tem despontado nos últimos anos foi instituído o 07 de agosto como Dia Nacional do Documentário Brasileiro. A efeméride seminal da homenagem é o nascimento do documentarista baiano Olney São Paulo definida pela Associação Brasileira dos Documentaristas (ABD). Olney é objeto de pesquisas acadêmicas relacionando cinema, literatura e o contexto da ditadura militar de 64 já que foi preso, torturado e seu filme Manhã Cinzenta sofreu censura no período.

Mesmo tendo menor alcance comercial que as obras de ficção, o documentário é um dos pilares da formação do audiovisual nacional. Eduardo Coutinho (Cabra Marcado para Morrer, 1984), Helena Solberg (A mulher de todos, 1969), Jorge Furtado (Ilha das Flores, 1989), Andrea Tonacci (Serras da Desordem, 2006), João Moreira Salles (Santiago, 2007) são alguns dos representantes clássicos e obrigatórios. Novos diretores têm expandido as fronteiras da não ficção com ótimas narrativas e reconhecimento pátrio e internacional.

De uma temática de classes e grupos sociais no Cinema Novo o documentário caminhou para a subjetividade contemporânea com a expressão do pessoal ganhando narrativas belas e interessantes. Vale usar e abusar de diferentes linguagens como videoarte, ensaios, flertes com a ficção, experimentalismos, já que, ao contrário do que comumente se pensa, o que está em jogo não é documentar a realidade, mas sim reconstruí-la com frescor e novos significados.

Cineastas inventivas se destacam entre as que mais oxigenaram o gênero. Petra Costa ganhou notoriedade por concorrer ao Oscar em 2019 com “Democracia em Vertigem”, Katia Lund com “Nosso cinema nosso” (2016) investiga as produções de jovens da periferia carioca, Eliza Kapai e “Espero por sua re volta” (2019) reflete sobre junho de 2013 e suas consequências. Viviane Ferreira com “Dê sua ideia, debata” (2007) e Juliana Vicente em “Afronta!”(2017) por sua vez alçam a importância e presença necessária da mulher negra no documentário.

Múltipla e profícua é a produção de temática LGBTQIA+ com pérolas como “Abrindo o Armário” (2018) de Dario Menezes e Luis Abramo desfilando depoimentos emocionantes de gays de várias camadas sociais, idades, expectativas sobre as circunstâncias em que se assumiram e como isso impactou suas vidas. “Onde é o lugar que nos cabe?”, questiona uma depoente, com sua fala poética e nua, apenas uma das muitas verdades necessárias que se diga em alto e bom som.

Naturalmente, há muito a se falar sobre documentários. Por que há muitos brasis a serem observados, registrados, discutidos e absorvidos. E o acesso é um tanto democrático: festivais dedicados, canais de TV a cabo, Canal Brasil, plataformas digitais, por vezes gratuitos. Porém, para sua popularização o documentário deve atingir as salas de cinema multiplex e este é um desafio que resvala no controle do mercado de exibição, entre outras questões.

Enquanto isso de desenrola, aproveite estas dicas do Empoderadxs de ótimos documentários para você assistir não apenas hoje, mas a partir de hoje em uma nova rotina cinematográfica que inclua este gênero cheio de descobertas que ficam para sempre.

Confira a lista que preparamos com 10 documentários que dão voz as minorias sociais:

1 As hiper mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro (2011)

Uma viagem de descoberta e encantamento com mulheres indígenas expressando seus rituais e o conviver com outras mulheres e também com a ancestralidade. Fica nítido o respeito e a importância do feminino na vida de tribos do Alto Xingu (MT) e o porquê sua expressão de corpos, arte e espiritualidade deveriam ser preservados.

2- Laerte-se, de Lygia Barbosa da Silva e Eliane Brum (2017)

A cartunista Laerte investiga o feminino em uma série de questionamentos sobre sua trajetória como mulher trans. Genial e provocadora com sempre, Laerte usa detalhes aparentemente irrelevantes para refletir mudanças psiquícas e comportamentais profundas. Disponível na Netflix.

3 Meu corpo é político, de Alice Riff (2017)

Um olhar que nos aproxima da realidade de quatro pessoas transsexuais: Linn da Quebrada, Paula Beatriz, Giu Nonato e Fernando Ribeiro. A violência que ronda sem cessar seus corpos encontra paralelo nas políticas de segurança pública de que são alvo constantes, num paradoxo deliberadamente dificultoso de se entender. Neste documentário Linn, Paula, Giu e Fernando esclarecem as razões desta intrincada equação.

4 Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi (2018)

Um retrato da ‘inquisição evangélica’ e da potência da cultura indígena. “O etnocídio não é a destruição física dos homens, mas do seu modo de vida e pensamento”. A frase do antopólogo francês Pierre Clastres (1934-1977) aparece nos primeiros instantes de Ex-Pajé e sintetiza os 81 minutos do filme que mostra como os pastores evangélicos estão se infiltrando e destruindo a cultura dos povos indígenas do Brasil.

5 Eu resisto, webdocumentário de Clarissa Fortes (2017)

De formato mais tradicional, Eu resisto tem o mérito de ser bastante direto e com boa fotografia. Mulheres lésbicas apresentam, por meio de passagens da vida cotidiana, suas inseguranças e conquistas na luta por isonomia e visibilidade. A documentarista Clarissa Fortes homenageia com esta obra a “memória de todas as mulheres lésbicas que vieram décadas e séculos atrás, às lésbicas que tiveram que viver vidas inteiras escondidas, às meninas e mulheres lésbicas de hoje que são obrigadas a viver “dentro do armário” e a todas as meninas e mulheres lésbicas que estão passando ou ainda vão passar pelo processo de autoaceitação.”

6 Marielle, O Documentário

Um dos crimes mais polêmicos dos últimos anos, o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro, comoveu o País e o mundo. Símbolo do ativismo social e moradora do Complexo da Maré – uma das comunidades mais violentas da capital fluminense – a história de Marielle deu origem a uma série documental na plataforma de streaming Globoplay: Marielle – O Documentário.

https://www.youtube.com/watch?v=fn7OgtYuVeM

7 Meu nome é Daniel, de Daniel Gonçalves (2019)

Deficiência, homossexualidade, preconceitos. Estas e outras questões são postas em discussão neste documentário do jornalista e diretor carioca Daniel Gonçalves. Em primeira pessoa e composto com muitos videos domésticos de sua privacidade, Daniel consegue uma narrativa interessante que expõe os obstáculos que teve que superar para se profissionalizar e ter reconhecimento além de suas deficiências e orientação sexual.

8 São Paulo in Hi-fi, de Lufe Steffen (2016)

As incríveis transformistas e dançarinas das boates da noite gay paulistana dos anos 60 aos 80 representando toda uma cultura gay brasileira a ser conhecida e reverenciada. Um olhar de quem testemunhou seu glamour apoteótico e a triste decadência, pontuadas com imagens históricas muito bem selecionadas. A construção do roteiro faz deste documentário um registro fundamental de nosso passado recente e mostra como a ditadura, a AIDS e o conservadorismo não abalaram o bom humor e a forte consciência social e política da comunidade gay, das drags e dos travestis. Até 2019, claro, mas isso é um novo desafio urgente a ser vencido.

9 – Doméstica (2012), de Gabriel Mascaro

Sete adolescentes assumem a missão de registrar por uma semana a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. Entre o choque da intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar e se transforma num potente ensaio sobre afeto e trabalho.

10 Divinas Divas, de Leandra Leal (2016)

A atriz Leandra Leal em uma feliz incursão na trajetória artística de oito travestis pioneiras desde os anos 70: Rogéria, Divina Valéria, Jane di Castro, Eloína dos Leopardos, Camile K., Fujica Holiday, Marquesa e Brigitte de Búzios. A fotografia belíssima, com ótimos takes e cores vibrantes traz glamour para Divinas Divas, reconstruindo o auge da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, com seus cinemas e teatros como epicentro de uma expressão comportamental, sexual e até moral revolucionária.

11- Outro olhar: convivendo com a diferença, de Renata Sette (2015)

O olhar de Charbel Gabriel sobre o mundo e sua própria caminhada. O portador de Síndrome de Down de 60 anos é retratado por seus familiares e amigos em um arco histórico cheio de mudanças. Renata Sette evidencia que existe sim uma vida dentro de uma certa normalidade para o portador de Síndrome de Down e este fato deve ser buscado pelos amigos e familiares no máximo de plenitude.

12- A luz do dia, Elaine Coutrin (2011)

Os graves obstáculos que pessoas trans e travestis enfrentam para conseguir trabalho e algumas reflexões sobre possíveis soluções. “Empregos para travestis e transexuais, por que não?” é o contundente questionamento a ser respondido por Renata Peron, Amara Moira, Priscila Valentina, Alice Rocha, Guilhermina Urze, Rafaela Neves, Symmy Larrat (coordenadora do programa Transcidadania, criado pela prefeitura de São Paulo) e da transexual Laysa Machado.

13 – Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil de Belisario Franca (2016)

O historiador Sydney Aguilar descobre centenas de tijolos marcados com suásticas nazistas em uma fazenda no interior de São Paulo e passa a investigar o que teria acontecido ali. Nos anos 1930, por causa de ideias relacionadas ao pensamento eugenista e de “pureza de raça”, 50 meninos negros órfãos foram levados à fazenda. 

Lá, eles enfrentaram dez anos isolados do resto do mundo e sendo escravizados. Um dos sobreviventes, Aloísio Silva, relata o que aconteceu na época e explica que eles foram privados até de ter um nome – o que o levou a se tornar o “menino 23”. 

Sobre Magah Machado

Paulistana, designer e analista de informação, entusiasta de expressões artísticas livres e autênticas na dança, cinema, música e fotografia como motores propulsores de mudanças no mindset careta e convencional