Dirigido e produzido por mulheres, filme aborda o aumento da violência doméstica durante a pandemia

Em “Lockdown: não tem vacina” a diretora Daila Ferreira administra o desafio de retratar a violência doméstica em cenas gravadas e dirigidas remotamente.

Atualmente, vivemos em um momento onde muitos temas que não eram tão falados vieram a tona. Além da pandemia, quarentena e a adaptação durante a atual situação do mundo, que são assuntos inéditos, podemos perceber o aumento de reportagens que falam sobre tentativas de feminicídio, relacionamentos abusivos e violência contra a mulher. Assim como o aumento de casos de Covid-19, também tivemos um grande aumento nas denúncias de violência contra a mulher.

Carolina Boujour, atriz

Esses números não param de crescer, e de acordo com o ministério da Mulher, da Familia e dos Direitos Humanos, foram registrados índices que superam dados de casos na primeira semana de isolamento em 8% comparados com o ano passado. No Estado do Rio de Janeiro houve aumento de 50% durante o período de quarentena até o momento.

Diante de informações alarmantes, Daila Ferreira, diretora e roteirista, iniciou remotamente a produção do filme “Lockdown: não tem vacina” que aborda o aumento da violência doméstica no contexto da pandemia da Covid-19. A equipe é formada apenas por mulheres, que são dirigidas via videoconferência, têm o desafio de apresentar o tema de forma inovadora e adaptada para seguir todas as normas de segurança devido o cenário que nos encontramos.

Daila Ferreira, diretora e roteirista do Lockdown

“A ideia surgiu após minha própria experiência com a violência de gênero. Em 2017, fui vítima de agressão pelo meu ex-companheiro. Nessa época eu já desenvolvia o projeto “Girassol”, onde eu fotografava mulheres, e me dei conta que mesmo envolvida com a temática voltada a mulheres, isso não me impediu de ser vítima.” diz Daila sobre sua motivação ao dirigir o filme.

As gravações foram finalizadas nessa semana e o filme tem previsão de lançamento para o final de Setembro. Para saber mais, você pode apoiar essa produção pelo Catarse.

Participantes do elenco e produção de Lockdown

Mesmo evidenciando a necessidade de levar o tema a frente e cobrar políticas que abracem as vítimas, ainda temos muitas mulheres que não têm coragem de denunciar e passam por anos de violência física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) ficar em casa é a melhor maneira de se proteger, porém, para muitas mulheres isso significa não ter contato com amigos e parentes, e estar em confinamento com seu próprio agressor.

É muito importante que as informações sobre o tema sejam disseminadas com o foco de encorajar mulheres à realizarem a denúncia. Sabemos que é um grande desafio se desligar do agressor, principalmente quando há dependência emocional e financeira. As vítimas podem buscar ajuda através do 180, ou então ir diretamente à Delegacia da Mulher de sua cidade, além disso, existem Centros de Referência a Mulher (CRM) que podem ajudar com apoio psicológico, abrigo e apoio jurídico.

Se você presenciar uma situação de abuso ou souber de alguma mulher que está passando por violência, a denúncia é confidencial.

Denuncie! Disque 180.

Sobre Mell Gomes

Diferente de Belchior, adora uma teoria, mas concorda quando ele cita em "Alucinações" que amar e mudar as coisas interessam mais. Professora, programadora e paulistana. Atualmente reside em Jundiaí/SP. Insiste na disseminação da informação de forma didática e acessível. Idealizadora do projeto Foi abusivo porque, que abre espaço para debates transparentes sobre temas direcionados à mulher e relacionamentos afetivos