Foto: premierleague.com

Premier League marca gol contra a homofobia e enche estádios com bandeiras do arco-íris

Ser LGBT no meio do futebol é um verdadeiro desafio para torcedores e jogadores, por se tratar de um dos ambientes mais homofóbicos e machistas da sociedade.

Cultura dos estádios de futebol

Nas arquibancadas, todos os cânticos direcionados aos rivais têm falas que visam diminuir o outro lançando sobre ele atributos femininos. O apelido usado por um rival para se referir ao outro é, quase sempre, uma palavra terminada em “a”. Isso tudo porque, para o sujeito comum do campo de futebol, aquele ambiente pertence aos homens, e apenas aos homens heterossexuais.

Nessa cultura dos estádios, futebol é força, virilidade, bravura, e apenas homens héteros possuem esses atributos e, por isso, são dignos de representar seus times, seja em campo ou na arquibancada. Mulheres e LGBTs não têm o que é necessário e, por isso, não são benvindos naquele espaço.

Por essa lógica, o ódio ao rival o transforma em inimigo. Além de vencido no campo de jogo, ele deve ser diminuído, ofendido e humilhado. Para isso, a rotina das torcidas de futebol é usar a ofensa máxima: tratar os rivais como se fossem mulheres ou gays, categorias vistas como inferiores. Frangas, Marias, Bambis, Galinhas, Peppas, Flores, Gaymistas, Coloridas, são alguns dos nomes pelos quais são chamadas as torcidas de grandes times do Brasil.

A pessoa LGBT que ousa frequentar estádios e grupos de torcida precisa conviver com essa realidade e aprender a ignorar essas ofensas, pois nem o mais otimista dos torcedores consegue vislumbrar uma mudança nesse comportamento coletivo hostil.

Exemplo vindo da Inglaterra

No entanto, nesse cenário desanimador, estamos assistindo a uma antecipação positiva do futuro desejado. O campeonato inglês, a respeitada Premier League, surge como um oásis em meio ao ódio enraizado no futebol. A organização do torneio uniu-se à Stonewall, entidade britânica que luta pelos direitos LGBT, e implementou em seu campeonato uma campanha de conscientização e inclusão chamada Rainbow Laces (Cadarços Arco-íris).

Com o lema “Este é um jogo de todo mundo” em tradução livre, a ação esteve presente nas duas primeiras rodadas de dezembro do campeonato inglês. As cores do arco-íris, símbolo LGBT, puderam ser vistas em diversos lugares durante os jogos de todas as equipes, como braceletes dos capitães, bandeiras de escanteio, suportes da bola, placas ao redor do campo, dentre outros. Os times também fizeram postagens em suas redes enaltecendo a campanha. Um grupo de torcedores do Watford organizou um grande mosaico na arquibancada do estádio com as cores do movimento.

Foto: premierleague.com

A parceria entre Premier League e Stonewall vem ocorrendo desde a temporada 2016/2017, quando árbitros e jogadores dos 20 times participantes do campeonato disputaram uma rodada utilizando cadarços com as cores do arco-íris. Os acessórios foram disponibilizados para venda ao público, e toda a renda foi destinada a associações que lutam contra a homofobia.

Cada vez mais ações vêm sendo adicionadas à campanha. Neste ano, a Premier League divulgou em seu site algumas formas de denunciar atos homofóbicos vividos ou testemunhados nos estádios e nas redes sociais. O texto pede que pessoas LGBT sejam apoiadas e acolhidas no futebol para que esse esporte possa se tornar um jogo de todos.

Esperança por dias melhores

Essa conscientização vinda do campeonato de futebol mais visto no mundo é motivo de alegria e esperança para a comunidade LGBT. Faz toda a diferença quando a homofobia, tão enraizada neste meio, começa a ser denunciada e combatida do alto, partindo de organizadores e dirigentes, para mostrar que isso importa e que medidas estão sendo tomadas.

A ação conjunta da Premier League e da Stonewall tem um enorme potencial de ser replicada e adotada por entidades do futebol em todo o mundo. Adicionalmente, mas não menos importante, os times que tomarem a frente deste movimento tenderão a atrair e fidelizar um imenso contingente de torcedores e torcedoras LGBT que, até agora, não encontram lugar e acolhimento nos estádios.

As sementes estão lançadas!

Sobre Clarice de Oliveira

Mineira, vegetariana, feminista e peladeira. Pós-graduada em Jornalismo Esportivo. Liga o rádio antes do Spotify. Apaixonada por futebol, cultura pop e brigadeiro.