Após espera causada pela pandemia, Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate estreia nos palcos paulistanos

O musical Charlie estréia no Brasil em uma produção de encher os olhos

texto: André Ferreira

Pura e luxuosa imaginação

Charlie e a Fantástica Fábrica Chocolate – O Musical estreou nos palcos londrinos em 2013, permanecendo mais de três anos em cartaz. O espetáculo é inspirado, é claro, no livro homônimo de 1964, tornado mais famoso em duas versões cinematográficas de sucesso, de 1971 e 2005. A história do menino pobre que encontra um bilhete dourado e ganha, com ele, a oportunidade de conhecer uma fábrica de chocolate já encantou várias gerações.

A peça chegou à Broadway, a capital mundial do teatro musical, em 2017, e em outros países nos anos seguintes. A versão brasileira estava programada para 2020, mas acabou suspensa às vésperas da estréia em virtude da pandemia de Covid 19. No último dia 17, mais de um e meio após a data original, o espetáculo estreou no Teatro Renault, onde fica em cartaz até 19 de dezembro, proporcionando uma experiência imersiva e encantadora para as crianças de todas as idades.

Já no saguão do teatro, um portão gigantesco reproduz a entrada da famosa fábrica de propriedade do excêntrico Willy Wonka (no espetáculo, interpretado por Cleto Baccic). Nas laterais do portão, estão plantadas árvores que, se realmente existissem no nosso mundo, fariam todos os baixinhos gostarem de comer frutas: são “pés de doces”! Um Oompa-Loompa – como são chamados os operários da fábrica – e um vendedor de doces, também compõem o cenário e convidam os espectadores para tirar fotos. Esse prelúdio na entrada maravilha o público e o transporta para o universo da mais pura imaginação.

Na entrevista coletiva concedida aos veículos de comunicação, Carlos Cavalcanti, presidente da Artium, a produtora do espetáculo no Brasil, comentou sobre como os limites impostos na captação de recursos através das leis de incentivo à cultura impossibilitam a realização de uma realização tão luxuosa quanto peça original inglesa ou a versão da Broadway, famosas por seus aparatos tecnológicos. Mas a Artium tem do que se orgulhar com a versão brasileira: os cenários grandiosos, as telas e os aglomerados de elementos cênicos que se colocam e se retiram com precisão, os figurinos caprichados, a iluminação afinada e um elevador fascinante enchem os olhos da platéia.

Essas adaptações de musicais estrangeiros para a língua e cultura brasileiras costumam resultar num casamento nunca inteiramente bem sucedido. Isso fica, geralmente, mais evidente nas canções – harmonia e letra nem sempre se encaixam. Charlie se esquiva bem desse problema, especialmente na primeira metade. Os números que apresentam as crianças sorteadas para conhecer a fábrica são empolgantes e revelam o elenco carismático. A segunda parte, pós-intervalo, tem tropeços no ritmo, cansaço na dicção dos atores e, talvez, não encante visualmente tão quanto à primeira parte nos acostumou – é tudo, a princípio, tão espetacular, que se cria uma alta expectativa para os ambientes internos da fábrica. Essa expectativa, no meu caso, não foi inteiramente correspondida.

Mas nada que invalide a experiência de assistir ao musical. Para além da opulência, há  representações inesperadas e preciosas, como uma crítica sarcástica dos valores armamentistas e morais de grupos sociais que encontramos muito facilmente na extrema direita. No todo da peça e nos agradecimentos finais, comove a emoção do elenco com o retorno aos palcos e a resistência da Arte frente à pandemia e ao descaso e perseguição política. Charlie e a Fantástica Fábrica Chocolate estréia mais de um ano após o previsto mas sua mensagem de esperança chega na hora certa: o mundo anda precisando um encontrar um bilhete dourado.

Serviço

Local: Teatro Renault (Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411 – Bela Vista);
Dias e horários: sexta, às 20h30; sábado, às 15h30 e às 20h30; domingo, às 14h30 e às 19h30;
Preço: de R$50 à R$ 310 (aceita meia-entrada).
Vendas: na bilheteria (sem cobrança de taxa de conveniência) e pelo site ticketsforfun.com.br (com cobrança de taxa de conveniência).
Duração: 150 minutos
Classificação: Livre

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