HQ nacional transforma orixás em super-heróis

Obra do ilustrador brasileiro Hugo Canuto recria tradições e mitos da cultura africana em personagens de quadrinho.

Os personagens de “Os Vingadores”, a franquia da Marvel mais popular e lucrativa do mundo, receberam uma releitura do ilustrador brasileiro Hugo Canuto.

Canuto recriou em homenagem a Jack Kirby, a icônica capa de Os Vingadores #4 sob o título The Orixas, uma mistura do termo em português e em inglês. Na ilustração, Capitão América, Homem de Ferro e Thor deram lugar a entidades da religião africana, com os moldes da HQ estadunidense, com numeração e títulos em inglês. “Eu já estudava sobre a civilização Yorubá e a história da África devido a outro projeto. Então, fiz a arte, simbolizando o conceito”, explica o autor Hugo Canuto.


(foto: Jack Kirby/Divulgação e Hugo Canuto/Divulgação)

A capa foi tão bem recebida nas mídias sociais que Canuto decidiu reinterpretar o popular personagem Thor como Xangô, o deus do fogo e do trovão.

“Muitas pessoas se sentiram representadas por essa arte. Muitos negros pediram que queriam ver os orixás em uma revista em quadrinhos. Eles me perguntavam : ‘Por que as pessoas dizem que Thor é um herói e que Xangô é um demônio?’ “

Essa pergunta estimulou Canuto a criar “”Contos dos Orixás””, uma história em quadrinhos desafiando tanto “o racismo quanto a natureza eurocêntrica dos quadrinhos dentro de uma linguagem artística, ao mesmo tempo em que busca respeitar as tradições.” diz o ilustrador

“O Brasil é uma sociedade muito racista, mesmo que tenhamos 70 a 100 tons de pele aqui”, disse Canuto. “Mídia, filmes, programas de TV no Brasil mostram os negros como sendo pobres, sempre atrasados, como traficantes de drogas … É uma terrível opressão cultural”.

“Eu mostro negros como reis, guerreiros, magos, feiticeiros, deuses … Está mudando a maneira como as pessoas pensam sobre isso.”

Depois de uma bem-sucedida campanha de “crowdfunding” iniciada em 2017, Canuto levantou dinheiro suficiente para trazer a revista,nicialmente previsto com 60 páginas. “Dobramos o tamanho da revista, tendo a versão final o total de 120 páginas, o que exigiu mais tempo na elaboração, posto que, do roteiro até a arte, o processo se deu de maneira autoral.” explica Canuto.

Formado em arquitetura, Hugo Canuto sempre esteve ligado ao campo da arte e ao mundo dos quadrinhos, consumindo as produções e sendo fã de nomes como Jack Kirby, John Buscema (Wolverine: bloody choices), Walt Simonson ( O PoderThor) e Moebius (The incal: classic colection). “Essa era, de certo modo, minha escola em um período anterior ao da internet, quando precisávamos ir aos sebos cavar gibis clássicos”, lembra.”A vida é um mistério”, acrescentou Canuto. “Nós artistas devemos tentar redescobrir partes do mistério e entender os outros. Isso torna a vida mais rica do que apenas ouvir uma parte da história.”

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