Instituto Afro-brasileiro lança curso de inglês online direcionado para pessoas pretas

Com preços acessíveis, o curso também oferece oportunidade gratuita para àqueles que não podem pagar

Como forma de emancipação da pessoa preta, o Instituo Nzinga-Zumbi lança neste mês um curso de inglês afrocentrado para mulheres e homens negros. A iniciativa foi criada pelo estudante Rennan Willian, 25, com apoio do designer Isabelle Acácio, 22.

O instituto questiona o espaço de aprendizado que a pessoa preta está inserida. O meio onde os indivíduos estão influencia um desenvolvimento embranquecido, colocando de lado a potência da negritude.

A iniciativa cria um espaço de aprendizado voltado para o inglês e saberes próprios da negritude, buscando visibilizar processos didáticos do afrocentrismo e o quilombismo.

EDUCAÇÃO PRETA

Rennan Willian é estudante de Ciências e Humanidades na Universidade Federal do ABC (UFABC). Idealizador do projeto, ele percebeu a necessidade para a criação do instituto após dar aulas particulares de inglês.

Esse vazio educacional para pessoas pretas despertou nele um senso sobre como transformar o acesso a língua inglesa para os que não tem oportunidade.

“Gosto muito de música, uma canção da Willow junto do Kid Cudi diz ‘não foram muitos professores que me mostraram minha potência, por isso me sentia um fracasso’. Isso junto de conversas com pessoas muito importantes me fez refletir a necessidade de afrocentrar o ensino de inglês”, comenta Willian. 

Esse déficit é geral. Um levantamento da British Council mostrou que apenas 5% da população brasileira sabe se comunicar em inglês, sendo essa porcentagem ainda menor entre os jovens pretos.

Com isso, é possível visualizar e enxergar uma tendência a privilegiar as visões da branquitude. De acordo com a Lei 10.639/2003, é obrigatório na Rede de Ensino o estudo da história e cultura Afro-brasileira e Africana.

Mas infelizmente não é assim que os métodos pedagógicos ocorrem, visto que no currículo escolar se fala pouco sobre a cultura afro no país.

Para o estudante é uma realidade que pretas não são estimuladas, sendo a dor que o próprio sistema de ensino causa na desvalorização da negritude e consequentemente, de si. Ou seja, na escola o negro é deixado de lado e por viver em uma sociedade que já o coloca em situação desfavorável, falta o apoio necessário para que ele perceba que tem o mesmo potencial que outros que são constantemente incentivados.

Rennan Willian, 25, comenta sobre o curso. Foto: Divulgação / Instituto Nzinga-Zumbi

AFROFUTURO

Respeitar o passado é atuar no presente e alcançar o futuro. Em sua visão de mundo, o curso oferecido procura intensificar as responsabilidades e dar potência através do afrofuturo.

“O afrofuturo são todas as épocas no agora. Ele tem início no jazz com Sun Ra, mas toca diversas áreas: ciência, educação, artes, arquitetura, etc. Todas essas áreas se conectam pela negritude. Pensar nele é saber que no agora sou ancestral do futuro e que o futuro não é descolado do passado”, comenta Willian.

Junto ao projeto está Acácio, 22, designer e estudante de Antropologia na Universidade Federal Fluminense (UFU). Como parte de um objetivo o estudante vê o curso e a iniciativa que tem o inglês como foco, algo feito para os seus: os pretos.

“É uma realização pessoal e artística poder trabalhar as referências históricas pretas da perspectiva de nossas experiências. Referências essas que moldaram a minha geração, diretamente ou não”, comenta.

A identificação visual do instituto é algo essencial. O protagonismo preto toma conta e tem como centro Zumbi dos Palmares e Nzinga. “O protagonismo preto é o foco total do projeto, é algo que aprendemos com a história de Zumbi e Nzinga, sempre colocando como prioridade o direito do seu povo. Nunca abaixando a cabeça”, comenta o designer.

Visto como um dos principais líderes da resistência nos quilombos, Zumbi dos Palmares é um dos maiores exemplos da luta preta contra a repressão racista e escravocrata.

Nzinga foi uma monarca do Reino do Ndongo, atual Angola, que esteve à frente do país no século XVII.

Figura principal ante ao colonialismo europeu, a princesa é influência histórica nas lutas pela independência do país angolano, que ocorreram na década de 60 e 70.

 “São figuras importantes por tudo o que fizeram, são exemplos de luta. São importantes na medida que são ancestrais que ecoam no presente sua potência. Nzinga e Zumbi são reflexos em pretos e pretas, eles não são passado, são presente e futuro”, afirma Willian.

O INGLÊS COMO FOCO

Sendo a segunda língua mais utilizada no mundo perdendo apenas para o mandarim, o inglês surge como foco do curso pelo poder global. Abordado como um caminho múltiplo, a língua inglesa serve como acesso e conexão no ocidente entre pessoas, abrindo caminhos necessários.

“É difícil pensar o mundo de forma não globalizada sem pensar no dólar ou no inglês. Empresas, faculdades e até mesmo o entretenimento pessoal exigem uma certa familiaridade com o inglês. Focalizamos nele porque acreditamos na emancipação de pessoas pretas seja educacionalmente, seja profissionalmente”, comenta Willian.

Mas o curso vai além. O processo traumático que pessoas pretas vivem todos os dias abre portas para feridas e marcas que não se curam de forma imediata. Por isso a proposta principal das aulas é simples: cura.

Curar todos que não tiveram oportunidade e que ainda buscam seu espaço, potencializando e pluralizando a pessoa negra.

“A cantora Solange Knowles inspira muito o projeto quando diz na canção ‘Can I Hold the Mic’, sobre a pluralidade que cada partícula da negritude possui. Nossa proposta é escancarar essa potência e pluralidade”, diz.

As aulas começam no dia 20 de julho e os estudos serão divididos em 16 encontros semanais, com duração de uma hora e meia.

Há três formas de pagamento: inteira R$ 119,90; meia R$ 59,95; e para os que não podem pagar, a gratuidade será disponibilizada para quem se inscrever em um formulário do Google disponibilizado pelo Instituto.

Plataforma de pagamento: https://www.sympla.com.br/imersao-de-ingles-instituto-nzinga-zumbi-julho-agosto__901258

Formulário: https://forms.gle/DdRvZ3TZcqP7vC1aA

Sobre Luiz Fernando Figliagi

Estudante de comunicação social em Ribeirão Preto. Jornalismo por amor e cinema como sonho, vibrei muito quando Parasita venceu o Oscar. Amante de Friends, fã de Harry Potter e músico nas horas vagas. Faço parte dos 5,5 milhões que não tem o registro do pai biológico no RG.