Delegacia de Defesa da Mulher conclui que Felipe Prior é inocente em supostos casos de estupro

O ex-BBB foi denunciado por estupro e tentativa de estupro nos anos de 2014, 2016 e 2018. Investigação policial foi enviada ao Ministério Público e pode arquivar o inquérito.

A delegada Dra. Maria Valéria Pereira Novaes, titular da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de São Paulo, concluiu nesta quarta-feira (5) que não houve crime nas denúncias feitas contra o arquiteto Felipe Prior e decidiu por não indiciar no inquérito policial que investigava os supostos casos de violência sexual de que ele havia sido acusado.

Além de Prior, todas as supostas vítimas e 11 testemunhas foram ouvidas pela delegada. O relatório da polícia já foi encaminhado para o juiz do caso que dará vistas ao Ministério Público.

O inquérito policial foi instaurado em 8 de abril, quatro dias após a revista Marie Claire divulgar denúncias de três mulheres que teriam sofrido violência sexual por Prior entre os anos de 2014 e 2018. A defesa do ex-BBB encontrou diversos pontos divergentes entre a leitura dos depoimentos colhidos e a análise dos documentos juntados, inclusive a partir das afirmações das supostas vítimas.

A advogada de Felipe Prior, Dra. Carolina Pugliese, destaca que a defesa sempre acreditou que a inocência de Felipe Prior iria se sobrepor a qualquer outra circunstância no curso das investigações. “O trabalho criterioso e responsável da delegada, Dra. Maria Valéria Pereira Novaes, e sua equipe, permitiu que o acusado apresentasse as provas necessárias e imprescindíveis durante o inquérito policial. O que nós esperamos agora é que o caso seja encerrado para que a justiça se restabeleça e o Felipe Prior retome o curso normal de sua vida.”.

Felipe Prior durante o BBB (Fonte: G1)

Alerta de Gatilho: relatos podem ser fortes, há detalhes de estupro e violência sexual.

Entenda as denúncias

No dia 17 de março, a advogada das três mulheres, Maíra Pinheiro, protocolou uma notícia crime sobre os três casos no Departamento de Inquéritos do Fórum Central Criminal. 

O Ministério Público havia se posicionado pedindo a abertura do inquérito para investigar o caso.

Ainda de acordo com a denúncia, os casos teriam ocorrido nos anos de 2014, 2016 e 2018 e vieram a público em abril deste ano. As três mulheres que acusavam Prior não fizeram boletim de ocorrência porque dizem que se sentiram envergonhadas.

Segundo a advogada, uma universitária viu a chamada da participação de Felipe Prior no Big Brother Brasil 20 e fez um post no Twitter em que afirmava que o conhecia e que ele havia sido impedido de entrar no InterFau 2019 (jogos esportivos entre faculdades de arquitetura de São Paulo) após uma denúncia de assédio.

A partir desta publicação, duas das mulheres que o acusam, sem que se conhecessem, procuraram a universitária, que as colocou em contato. Elas procuraram as advogadas Juliana Valente e Maíra Pinheiro.

Ao apurarem a denúncia do InterFau, chegaram até a terceira mulher.

O tweet foi apagado, de acordo com Maíra Pinheiro, porque a universitária foi procurada por três pessoas que afirmaram que eram advogados de Prior e que a processariam por calúnia caso ela falasse sobre o ocorrido nos jogos universitários. Segundo eles, a informação era falsa.

Em notícia crime protocolada em 17 de março, a defesa das três mulheres descrevia os supostos crimes. De acordo com o documento, na madrugada de 9 de agosto de 2014, a vítima protegida sob o nome de Themis descreve que Prior se aproveitou de sua embriaguez para praticar atos libidinosos e conjunção carnal, provocando lesões corporais graves.

Ela narrou que Felipe tirou a roupa dela e abriu a própria calça, deixando seu genital para fora. Como estava embriagada, ela disse que não conseguia oferecer resistência física, mas disse que falou não a ele muitas vezes e que não queria ter relações sexuais.

Felipe teria reagido dirigindo-se a ela aos gritos, dizendo “para de ser fresca, no fundo você̂ quer, não é hora de se fazer de difícil” e, diante das seguidas negativas de Themis, insistido: “quer sim”. Neste momento, Felipe teria estuprado Themis.

Depois, ainda segundo a denúncia, Themis contou para a mãe que estava com um ferimento em suas partes íntimas e que sentia dor. “A mãe pediu à filha que se deitasse e olhou, e notou um corte de cerca de três dedos de comprimento na região genital da filha, profundo o suficiente para chegar até o músculo.

A filha da declarante relatava muita dor e o sangramento estava muito intenso.”

“A mãe precisou vestir a filha, pois a mesma estava sem condições físicas e emocionais de fazê-lo. Para conter o sangramento, que estava muito intenso, a declarante colocou uma fralda na filha. (…). Quando a filha da declarante foi chamada para ser atendida, chamou a atenção da declarante a reação da médica ao examinar TESTEMUNHA PROTEGIDA THEMIS. A médica expressou muito espanto, e ao se dirigir à declarante, a primeira pergunta que ela fez foi ‘quem que fez isso?’. Naquele momento, a declarante e a filha estavam com medo e vergonha de relatar a verdade, então disseram que havia sido um namorado. A médica disse ‘isso tá muito feio. Namorado seu, você tem certeza?’”, relata o documento.

A advogada descreveu o segundo caso como crime de tentativa de estupro, praticado durante os jogos universitários Interfau, em setembro de 2016, no município de Biritiba Mirim, contra a vítima testemunha protegida chamada Freya. Ela descreve que Prior tentou conter a vítima fisicamente por meio do uso da força, mas não conseguiu, e a vítima escapou.

O terceiro relato é de crime de estupro, praticado durante os jogos Interfau em setembro 2018, no município de Itapetininga, tendo como vítima a testemunha protegida chamada Ísis. Ela descreve que Prior se aproveitou de sua embriaguez para praticar atos libidinosos e conjunção carnal, com uso de violência física, mesmo diante do choro da vítima.

Ainda em março, as advogadas pediram à Justiça que a polícia abrisse investigação e que Prior fosse proibido de manter contato com as supostas vítimas, mas a juíza Patrícia Cruz negou. No despacho, ela afirma que os supostos crimes ocorreram em anos distintos, sem conexões entre eles, e em comarcas diferentes. A juíza também recomendou que as advogadas pedissem a abertura de investigação diretamente à polícia. A advogada disse que vai recorrer da decisão

Segundo Maíra, no curso da apuração, “a gente teve conhecimento de mais uma vítima que inicialmente não se dispôs a falar, e é possível que existam outras.”

A advogada disse ainda que “é compreensível que possivelmente ele não enxergue nenhum desses episódios como atos de violência que ele tenha praticado. Esse caso não é sobre BBB, é sobre violência sexual em um ambiente universitário e sobre uma certa permissividade que é senso comum sobre o que é consentimento.

Por causa disso, é importante entender esse caso não como um caso isolado e não como um caso que tenha a ver com BBB, mas com um problema muito maior sobre violência sexual em ambiente universitário.”

À época, a Globo divulgou a seguinte nota: “A Globo é veementemente contra qualquer tipo de violência, como se percebe diariamente em seus programas jornalísticos e mesmo nas obras do entretenimento, e entende que cabe às autoridades a apuração rigorosa de denúncias como estas”.

Fontes: G1 e Istoé

Sobre Bianca Colluci

Graduanda em Jornalismo e nas batalhas da vida. Adora o aleatório, se apaixona pelo simples e se encanta em registrar momentos. Engajada nas lutas contra as desigualdades, semeadora do amor ao próximo e sempre pronta para o novo.