Escobar: uma traição | Filme conta a história do famoso traficante a partir do olhar de sua amante

Em “Escobar: uma traição” (Loving Pablo, 2018), o diretor espanhol Fernando Léon de Aranoa visita o universo selvagem do tráfico de drogas liderado pelo colombiano Pablo Escobar a partir de um novo enfoque: o feminino. Quem  faz o relato é a jornalista colombiana Virginia Vallejo, que publicou em 2007  “Amando Pablo, odiando Escobar”, em que se baseia o filme. Sua convivência com el Patrón na grande tela sintetizou 5 anos de um tumultuado romance com um final drástico que acarretou importantes consequências para o casal e, eventualmente, acelerou a queda do rei do narcotráfico.

É nítido que a escolha do também espanhol Javier Barden para viver Escobar é o grande trunfo do filme. E com um plus: Penélope Cruz como Virginia. Desde 2002,  quando conheceu Barden e juntos fizeram “Segundas-feiras ao sol”, Aranoa ambicionava realizar alguma produção sobre o traficante colombiano. Na época, Aranoa conquistou cinco prêmios Goya com aquela obra, incluindo melhor filme, melhor ator (Barden) e melhor diretor. Esta parceria prova que ainda funciona nesta nova produção, porém, com menos força.

Personagens como Escobar serão sempre explorados pela mídia e pelas artes. Este é um bom motivo para se jogar uma luz diferente em uma trajetória já bastante familiar do público. Em um formato conservador de cinema, com montagem linear, a película pouco acrescenta ao histórico audiovisual do criminoso mais famoso da América Latina nos anos 80 e 90. Ao contrário, acena com doses de violência explícita que chocam indiscriminadamente.

Javier Barden segue pela trama como o muro de arrimo do elenco. Seu Escobar é a expressão mais infame do crime organizado latino americano: corruptor em todos os níveis, cruel e cínico. Sua linguagem corpórea e gestual conduzem a montanha russa de emoções que esta personalidade tão singular evoca. Manipula seus títeres com tal destreza que consegue que Virginia Vallejo, em interpretação histriônica de Penélope Cruz, caia de amores por seus narcodólares e narcopesos colombianos.

Como narradora, Cruz explica todas as cenas, em um reforço desnecessário. Enquanto Barden se debate para aprofundar e colorir as nuances da transição de Pablo em Escobar, sua parceira experimenta tons mais cômicos ou dramáticos, sem se decidir por nenhum dos dois, confundindo o espectador. Como resultado, as cenas ficam dentro de uma linguagem mais próxima da telenovela que do cinema.

Escobar: uma traição
Javier Barden é Pablo Escobar em filme de Fernando de Léon Aranoa

Dando suporte ao casal central, os capangas de el Patrón e os policiais e autoridades político-econômicas participam ativamente da guerra instaurada por toneladas de coca levada aos Estados Unidos pelos meios mais audaciosos. Em um deles, a espetacularização do crime é tamanha que poderia muito bem ser roteirizada para um filme de James Bond.

Com um núcleo duro fluente em espanhol (Javier, Cruz e Aranoa) revivendo um biografado também fluente no mesmo idioma, é uma pena que não se tenha aproveitado este potencial criativo. Por ser natural de Antioquia, região noroeste da Colombia, Escobar era um paisa, com cultura e vocabulário típicos, que, infelizmente, ficaram escondidos por trás do inglês dominante e com sotaque espanhol estereotipado. Talvez o filme tivesse mais ganhos com uma aposta mais determinada na língua espanhola.

Já totalmente absorvido pela cultura pop cinematográfica, o grande senhor das drogas ainda será objeto da sétima arte, e pode inspirar novas produções que, eventualmente, levarão a novas premiações. Se Aranoa não fez valer sua chance, outros diretores o farão.

Estreia em 16 de agosto nos cinemas. Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=cBws1dj1qPw

 

Sobre Magah Machado

Paulistana, designer e analista de informação, entusiasta de expressões artísticas livres e autênticas na dança, cinema, música e fotografia como motores propulsores de mudanças no mindset careta e convencional