FAKE | PREP não garante imunidade contra o COVID-19

Pacientes supuseram que o uso da medicação garantiria imunidade ao COVID e acreditaram que poderiam relaxar nas medidas de segurança no retorno às academias

Em meio a um mar de desinformação muitas mentiras acabam sendo disseminadas. E cabe a nós explicar através de dados e estudos a verdade do que é apenas fake.

No final do mês passado, foi publicado um estudo no Annals of Internal Medicine, um periódico respeitado na área médica, acerca da incidência (número de novos casos) de COVID-19 em pessoas recebendo tratamento para HIV.  

O estudo é de um volume apreciável: 77590 pessoas com HIV em tratamento. Uma das observações importantes desse artigo foi a diferença na incidência de COVID relacionada ao tipo de tratamento antiretroviral (TARV – tratamento para o HIV) utilizado pelos pacientes.  

O risco para diagnóstico de COVID foi cerca de metade em pacientes utilizando a combinação tenofovir/emtricitabina em relação aos pacientes que utilizaram outros tipos de tratamento. O risco de hospitalização por COVID também foi cerca de metade.

Incrível, né? Sim.
Para pessoas HIV+ que já utilizam esse tipo de tratamento.

Por quê?

Em Medicina, um conceito básico é: as conclusões de um estudo realizado em pessoas com uma patologia NÃO DEVEM ser extrapoladas para a população geral (saudável) e vice versa, pois frequentemente as descobertas que são válidas para uma população não se aplicam para as demais.

Neste momento, não temos evidência suficiente para garantir que esse resultado também se aplica, por exemplo, a população HIV- utilizando Truvada como profilaxia pré-exposição (PREP).

Além disso, cabe ressaltar que os resultados indicam uma diminuição da chance de contaminação / hospitalização – não imunidade.

Um usuário de Truvada ainda pode ser contaminado, hospitalizado e contaminar dezenas de pessoas nesse meio tempo.

Em um contexto de pandemia, nossas ações influem em toda a comunidade.
Portando, conforme for possível, mantenha o distanciamento social, utilize máscaras durante todo o período em que estiver fora de casa e adote as medidas de higiene para diminuir chance de contaminação. Ao utilizar academias, adote a prática de levar o próprio spray de álcool e toalha, higienizando os equipamentos antes e após o uso.

* O artigo citado no texto está disponível gratuitamente, na íntegra, em: https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M20-3689

Sobre Leonardo Carvalho

Médico do Esporte por formação, atuando também em Dor Crônica e Reabilitação. Catarinense radicado em São Paulo. Adepto do amor livre. Profundamente liberal nos costumes.