Chega de Fiu-Fiu | Filme debate feminismo e assédio sexual no Brasil

Documentário é uma campanha contra o assédio sexual lançada pela ONG Think Olga

O filme “Chega de Fiu-Fiu” fala sobre o machismo na sociedade brasileira e já pode ser visto nos cinemas. O longa foi criado pelo grupo Think Olga e inspirado na campanha de mesmo nome do filme. Criada em 2014, a campanha pedia mais respeito às mulheres no espaço público, entendendo que elas têm o direito de frequentá-lo sem sentirem qualquer tipo de constrangimento. Além disso, também visava educar as mulheres sobre o feminismo e criar uma rede de apoio a todas.

O projeto foi tão bem-sucedido que ocorreu a ideia de rodar um documentário, o qual foi realizado com financiamento coletivo. Dirigido por duas mulheres, Amanda Kamanchek e Fernanda Frazão, o filme tem a narrativa composta por entrevistas com a idealizadora do projeto Juliana de Faria, a filósofa Djamila Ribeiro, a ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres Nilceia Freire e a historiadora Margareth Rago. O documentário ainda acompanha a história de três mulheres de origens e classes diferentes: Tereza Chaves vive em Salvador, Raquel Carvalho em São Paulo e Rosa Luz em Brasília. Elas são uma professora de história branca de classe média alta, uma mulher negra que é vítima de gordofobia, homofobia e que foi estuprada pelo tio, e uma artista visual transgênero, alvo de transfobia. Apesar de não se conhecerem, sofrem pelo mesmo problema de inúmeras mulheres ao redor do mundo: o machismo.

Para a estudante Gabrielli Pablos, o filme chega no momento certo. “Estamos discutindo cada vez mais sobre machismo e feminismo. Quanto mais informações sobre isso surgirem, mais materiais temos para nossa discussão” diz Pablos.

Machismo é todo comportamento que recusa a igualdade de direitos e deveres entre os gêneros sexuais, favorecendo o sexo masculino. Essa ideologia, historicamente impregnada nas raízes do Brasil, traz como consequência a sociedade patriarcal. Nela, os homens adultos mantêm o poder de liderança das famílias, da política e da autoridade moral. As mulheres, por sua vez, ainda lutam por direitos básicos como a preservação do seu próprio corpo.

Logo nos primeiros minutos do filme, é narrado um dos depoimentos reais enviados ao Think Olga: “13 de setembro de 2017. Linha Amarela do metrô, estação Paulista. Naquela noite, voltando do trabalho, vagão lotado, senti algo quente na minha calça. Quando olhei para trás, me deparei com um cara com o zíper aberto”.

Segundo pesquisa da ActionAid, realizada em 2016, 86% das brasileiras já sofreram violência sexual ou assédio em espaços públicos. Delas, 77% ouviram assobios, 57%, comentários de cunho sexual e, 39%, xingamentos. Cerca 50% foram seguidas, 44% tiveram seus corpos tocados, 37% viram homens se exibindo para elas e 8% foram estupradas.

“Quando eu era lida como homem pela sociedade, tinha o privilégio de andar na rua sem ser assediada. Agora, é buzinada o tempo todo”, conta Rosa numa das seqüências do filme, podendo olhar sob as perspectivas de antes e depois da transição de gênero

O Código Penal entende o assédio de três formas: 1) “consentimentos e ameaças com intuito de conseguir favorecimento sexual por alguém de posição superior (Art. 216-A do Código Penal); 2) “importunação ofensiva ao pudor, que abrange frases desagradáveis, invasivas e agressivas” (art. 61 da Lei nº 3688/1941); 3) “ato obsceno, quando alguém realiza um ato sexual em público com o intuito de ofender e agredir” (art. 233 do Código Penal).

No Brasil foi criada, em 2005, a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial, oferecido pela Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres da Presidência da República. Segundo o site oficial da Secretaria, o Ligue 180 tem o objetivo receber denúncias de violência, reclamações sobre os serviços da rede de atendimento à mulher e de orientar as mulheres sobre seus direitos e até a legislação. A Central funciona 24 horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados, e pode ser acionada de qualquer lugar do país.

“A urbanização, o crescimento da cidade, o surgimento dos cafés, dos bordéis, das casas de tolerância, dos cinemas, a vida social se expande, e nesse momento há um discurso de que a vida social da mulher é em casa. É neste momento em que o feminismo está nascendo, porque as mulheres vão dizer, ‘Não, não, eu tenho direito à cidade’”, diz a professora Margareth Rago.

Para Amanda Kamanchek, uma das diretoras do filme, o longa também alcança os homens: “temos recebido muitos relatos de homens que falam o quanto o filme foi didático para eles e também o quanto eles se sentiram incomodados e passaram a rever suas masculinidades”.

Em São Paulo, filme está em cartaz no Espaço Itaú Frei Caneca, na Consolação. Há também a possibilidade de qualquer pessoa ou organização exibir o filme de forma coletiva por meio da plataforma www.taturanamobi.com.br.

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