POSE -- "Giving and Receiving" -- Season 1, Episode 3 (Airs Sunday, June 17, 9:00 p.m. e/p) Pictured (l-r): Indya Moore as Angel. CR: Sarah Shatz/FX

Pose | Série que explora a cultura LGBT dos anos 80 faz história no Globo de Ouro

Produzida por Ryan Murphy, série apresenta diversas reflexões sobre a comunidade LGBTQ+ e revela o quanto desconhecemos nossa própria origem
Logo ao ser anunciada, “Pose” começou fazendo história, ao se estabelecer como a primeira produção de TV com cinco atrizes transgênero no elenco. Agora, o drama de Ryan Murphy continua o seu legado, e torna-se a primeira série com um elenco majoritariamente trans a receber indicações ao Globo de Ouro, uma na categoria de melhor série drama e outra na categoria de melhor ator em série drama
É difícil identificar e reconhecer as pessoas que fizeram algo pela nossa comunidade no passado para que possamos sair às ruas hoje, sendo quem somos. Certamente não é mais fácil viver hoje em dia, ainda mais com a onda homofóbica política pairando sobre o país, mas tenho certeza que não temos a força e determinação de nossa comunidade dos anos 80, uma época marcada pela ascensão da cultura de luxo e o surgimento dos bailes LGBT, vivendo a descoberta do HIV, a perda crescente de amigos, e o preconceito enraizado tanto fora quando dentro do meio gay por diversas questões, sejam elas físicas, estéticas, raciais, sociais e de saúde. O gay precisava ser “higienizado”, branco e discreto para passar despercebido e ser respeitado pela sociedade. Regras não tão convencionais para viver em um mundo no ápice das mudanças culturais. O que de certo modo não mudou muito hoje em dia. Concorda?
Pose, retrato de um período de luxo, exagero e solidão
Os bailes representavam refúgio, glória, poder e diversão. Não muito diferente do que encontramos hoje em dia nas baladas gays e concursos Drag. Mas antes percebemos uma proteção mais maternal que hoje, certamente, não existi. Pertencer à uma família era estar seguro. Você tinha uma mãe (drag/travesti) que cuidava, orientava, protegia e acima de tudo amava seus filhos. Sentimento que o público LGTB muita das vezes desconhece por completo em sua origem parental.
Os bailes estimulavam o poder da dança, ditava moda, força, competição, ganhadores e perdedores. E essa glória faz parte de nós até hoje. Competimos entre nós mesmos para avaliarmos a melhor maquiagem, o melhor figurino, a melhor performance, a Drag mais feminina, o gay mais sarado (padrão). Nossa comunidade vive de subdivisões e categorias e isso não vai mudar. Precisamos a todo momento reafirmarmos quem somos e de alguma forma conseguir status sobre isso. E não pertencer a algum grupo social te exclui de forma severa.

E além de tanto estereótipo e preconceito preestabelecido, a geração gay dos anos 80 precisava vencer o surgimento do HIV. Uma doença que foi marginalizada para o grupo LGBT de uma forma que somente gays eram convidados e “intimados” a fazerem exames. Um resultado positivo era uma sentença de morte. O tratamento ainda era algo nebuloso, cheio de dúvidas e incertezas, e os medicamentos mais avançados eram caros, fora de qualquer padrão da classe econômica. O indivíduo aceitava sua sorologia e seguia em frente, vivendo como podia e esperando o dia para definhar em um hospital com poucos recursos e por vezes, sozinho, sem ajuda dos amigos, familiares e da própria equipe médica que por desconhecer muito do assunto tinha receios e evitava contato físico.
Pose nos traz para uma realidade que além de desconhecermos, julgamos. E se julgamos é porque não conhecemos. É fundamental estar disposto a entender nossa comunidade e  criar mecanismos mais produtivos de defesa e união, assim as próxima gerações já serão reconhecidas com mais respeito e igualdade.

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