Distraído | Após filho sofrer Bullying, pai escreve livro para ensinar empatia para as crianças

Inspirado em seu filho, a obra de Eduardo Ferrari é uma lição sobre empatia que conta a história de Bernardo, um menino portador de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade)

Distraído: um livro para prestarmos atenção

Para quem gosta das miudezas, das delicadezas da vida eu sempre recomendo a leitura de poesia ou de livros infantis. Muitos se surpreendem com a última indicação, mas garanto que é bem pensada e explico o porquê: livros infantis tem por função e característica ajudar a traduzir as complexidades da vida para um público que, bem, ao passo que vive e experimenta todo o tipo de emoções e vivências, carece de repertório em termos de linguagem para dar conta dessas experiências. Justamente por isso a experiência de ler ou reler livros infantis é tão cativante, já que tolos adultos que às vezes somos, nos esquecemos do quanto já éramos complexos e nos surpreendemos com a lembrança.    

Os livros do Eduardo Ferrari cumprem bem esse papel, com o bônus de trazerem à luz uma questão importantíssima e que tem sido negligenciada durante muito tempo, na literatura e fora dela: a criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).    

Recém-lançado, o livro Distraído retoma as aventuras e experiências de Bernardo, uma criança com TDAH e com delicadeza e sensibilidade nos abre uma porta para o universo do menino, mostrando as dores e as delícias de ser uma criança, muito além de um diagnóstico.    

Inspirado na experiência do autor, que recebeu tardiamente o diagnóstico de TDAH, com seu filho caçula, o livro aponta para uma jornada de aprendizado e crescimento de um pai com seu filho. Como aponta o próprio Eduardo, ao perceber as similaridades com o filho:

“Foi uma surpresa, mas ao mesmo tempo uma libertação. Isso, ter TDAH não diagnosticado, explicava muitas situações que passei a vida toda e não sabia claramente porque. Por exemplo: eu demorei a me alfabetizar, como acontece com a maioria dos portadores de TDAH, eu sempre fui muito inquieto e impaciente, outra característica clara do transtorno, e por fim, eu nunca me apeguei a detalhes, o que é quase como ser distraído. O engraçado é que nas consultas que eu ia com meu filho caçula, toda vez que o psicopedagogo ou psiquiatra citava uma dificuldade ou característica eu pensava que elas eram mais evidentes em mim do que nele”    

Sabemos, que a essa altura do campeonato, se você meu querido leitor, não for da área de saúde mental e/ou ter ou conviver com alguém com TDAH, você deve estar se perguntando o que diabeisso? Vamos lhe explicar.  

Os primeiros registros do que hoje chamamos de TDAH, datam de 1798, então nomeado de Desatenção Patológica.  Desse período para cá, o transtorno foi renomeado e estudado sob diversas abordagens vezes sem conta. Já foi chamado de Defeito do Controle Moral (1902), associado a um surto epidêmico de encefalite letárgica (1915-1930), chamado de Doença Hipercinética da Infância (1932), Lesao Cerebral Mínima (1940-1960), Disfunção Cerebral Mínima (1960 – 1990), entre outros, até chegarmos à definição que temos hoje.    

Definimos TDAH como um quadro caracteriazado basicamente por distração, inquietação e uma dificuldade com o controle inibitório manifestado por impulsividade comportamental e cognitiva. É o distúrbio neurocomportamental mais comum na infância, sendo uma condição de saúde crônica de maior prevalência em crianças em idade escolar. Estima-se que 5 a 8% da população em idade escolar possa ter TDAH, assim como aproximadamente 2% dos adultos.        

Não pretendemos com essas informações, levar você meu jovem inquieto, a se autodiagnosticar, ok? O diagnóstico de TDAH é complexo e exige a colaboração de diversos especialistas. Não use isso como uma desculpa para querer tomar Ritalina.

Agora que já estamos contextualizados com essa brevíssima aula, podemos retomar nosso ponto crucial. A beleza e importância dos livros do Eduardo, que nos ajudam a compreender melhor as peculiaridades de uma infância com este transtorno. Segundo ele o livro surgiu a partir de dois pontos:                  

“O primeiro era mostrar o quanto encantadoras são as crianças que veem o mundo com um olhar diferente. O mundo precisa disso, da diferença, da diversidade, do cosmopolita. O segundo era que o dia a dia com meu caçula era sempre (e ainda é) muito divertido. Para ele tudo é novidade. As coisas mais simples são para ele um mundo de oportunidades. De novo, agora, as pessoas precisam disso, de acreditar que o mundo pode ser repleto de coisas surpreendentes”

Não bastasse isso, que para nós já é motivo mais do que suficiente para recomendar a leitura, os livros também têm como objetivo combater o preconceito e desmistificar o transtorno, exatamente como ele é, sem disfarçá-lo de outra coisa qualquer. Ou vai dizer que até este momento você não notou que sempre tivemos referencias de crianças com esse transtorno, seja usando uma panela na cabeça, seja na companhia de seu cachorro aborrecendo o seu vizinho, seja viajando em seu fantástico mundo enquanto seu pai narra sua história. Meninos como Bernardo sempre estiveram entre nós, compondo as referencias de nossa própria infância.      

Ao narrar as histórias de Bernardo, tanto no primeiro volume (Elétrico,  lançado em 2019), quanto no atual, e provavelmente no próximo, visto que se trata de uma trilogia, o autor nos convida a, não apenas reconhecer e nos identificarmos com o menino e suas dificuldades, mas mais do que isso, nos possibilita enxergar muito além. Eduardo usa a literatura como ferramenta para combater o preconceito e o bullying, que constantemente vitima muitos Bernardos mundo afora. É um chamado para abrirmos os olhos para as possibilidades, para, como ele mesmo diz ‘ aproveitar o que essas “pessoinhas” portadoras de TDAH tem de melhor, que é ver as coisas de uma forma diferente. O mundo precisa evoluir.”   E se isso já não é maravilhoso, nada mais é!

Mais informações:
Distraído
Autor:
 Eduardo Ferrari
Formato: Brochura 21x14cm – 70 páginas
Selo: Filhos Melhores para o Mundo (parceria Literare Books International e EFeditores)
Versão impressa: https://bit.ly/distraido-livro
Versão digital: https://bit.ly/ebook-literare-distraido

Sobre Caroline Ariel

Psicóloga, feminista, cacheada e mineira. Não necessariamente nessa ordem. Uma vida dividida entre o café e a cevada. Adoro cozinhar, bordar e, neste momento, customizar roupas. Eterna otimista.