13 pais empoderados que marcaram a história do cinema

De A vida é Bela à Moonlight, muitos pais encantaram o público e deram um verdadeiro show de emoção e desconstrução nas telonas do cinema. Confira a homenagem do Empoderadxs ao Dia dos Pais!

Neste Dia dos Pais histórico, celebrado por muitas famílias em meio a uma das mais letais crises sanitárias da nossa civilização, o resgate de valores como empatia, pro-atividade, acolhimento e resiliência em mão dupla entre pai e filho(s) é fundamental para seguir em frente.

No cinema, personagens inspirados em relações afetivas com propósito além do singelo amor filial e paternal elevam em muitos graus o potencial transformador da presença de um pai.

Confira uma seleção com treze pais muito empoderados do cinema na nossa homenagem ao Dia deles.

1. Dafne, de Federico Bondi (2019, Itália)

Dafne e seu pai Luigi, em Dafne

Neste respiro vindouro do letárgico cinema italiano contemporâneo, o diretor Federico Bondi captou toda a espontaneidade de Carolina Raspanti, portadora de síndrome de Down, e construiu em cima da expressividade da atriz estreante a personagem Dafne. Seu drama surge da morte inesperada da mãe, com quem tinha laços estreitos e muita cumplicidade. O pai sexagenário, sempre alheio a essa relação, é exigido abruptamente e faz o possível para encarar sua nova e assustadora responsabilidade.

O desenrolar dessa aproximação entre os dois se dá com tanta delicadeza que ficamos com a certeza que Luigi (Antonio Piovanelli) é o pai que não foge de casa quando tudo dá errado e nem terceiriza sua paternidade em hipótese alguma. Em nome do amor que tinha à mulher, em nome do amor agora explícito e profundo por sua filha, Luigi se empenha em manter a independência de Dafne e apoiá-la em novas conquistas.

2. Kramer versus Kramer, de Robert Benton (1979, EUA)

Ben Kramer aprende com seu filho em Kramer x Kramer

O longa de Robert Benton que desbancou o memorável Apocalypse Now no Oscar de 1980 e abocanhou Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Principal (Dustin Hoffman)

e Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep) é sempre lembrado em listas de filmes inspiradores para o Dia dos Pais. Isso por que ele tem alguns méritos que o mantém relevante na historiografia do cinema mundial. Um deles é o elenco afinadíssimo que dá volume ao drama familiar de abandono e o outro é a importância de trazer o tema da responsabilidade do pai na divisão de tarefas do relacionamento.

Ted Kramer (Dustin Hoffman) é obcecado por seu trabalho e neglicencia seu filho e sua esposa (Meryl Streep). Porém, é forçado bruscamente a assumir plenamente sua função de pai quando Meryl sai de casa por não aguentar mais levar toda a vida doméstica e a educação de Billy sozinha.

Ted e Billy têm um grande estranhamento no início, mas acabam descobrindo canais de comunicação efetivos para concretizarem o que é possível de ser abraçado para viverem juntos. Mesmo com a volta da mãe meses depois pleiteando a guarda do menino, a lavação de roupa suja não chega a estragar a relação pai e filho. Um filme muito bem amarrado, com forte argumentação a favor da figura masculina na educação dos filhos, exigindo, inclusive, seu maior protagonismo familiar e não apenas financeiro.

3. A vida é bela, de Roberto Benigni (1997, Itália)

Guido e seu filho Josué em A vida é bela

Um marco do cinema não apenas por um ângulo inédito sobre a tragédia do holocausto (pela visão de um menino), mas pelos caminhos escusos com que o fascismo se embrenhou pela Itália. O ator e comediante Roberto Benigni roteirizou e dirigiu este longa que lhe valeu vários prêmios, incluindo um estrondoso Oscar em 1999 direto das mãos de ninguém menos que Sophia Loren (extasiada com o resultado, em cena antológica). Por esses e outros motivos, o espirituoso Guido de Benigni é sempre lembrado no Dia dos Pais.

Na Itália dos anos 30, o judeu Guido (Roberto Benigni) está determinado a proteger a inocência do filho e sua segurança em face do avanço do fascismo que eclodirá na II Guerra. Para tanto, ele adota algo como uma narrativa de gamificação para tentar isolar a criança da tragédia humana em que estão imersos. Com fantasia e liberdades poéticas, este dito fell good movie consegue agradar um público bastante amplo e eternizou o pai doce e protetor em meio à amargura e perigos de outro triste episódio de nossa história.

4. Priscila Rainha do Deserto, de Stephan Elliot (1994, Austrália)

O pequeno Benjamin (esq) e seu pai Tick viajam com Adam (dir) em Priscilla, Rainha do Deserto

Uma tela inundada com cores vibrantes e uma trilha sonora perfeita que supre cada tom do enredo é apenas a superfície deste roadie movie classudo dos anos 90. Um trio de amigas drag queens convivem em um ônibus por dias para entregarem um show performático para uma cliente insólita: a ex-esposa de uma delas, Tick/Anthony (Hugo Weaving), artista drag com frustrações se empilhando em sua vida. Uma dessas decepções é a distância que a separa de seu filho.

Apesar dos conflitos e enlaces entre Anthony, Adam (Guy Pearce) e Bernadette (Terence Stamp) que conduzem toda a trama, o filme é sobre o pai Anthony em sua jornada decisiva para se encontrar com o filho que nunca conheceu. Um ato de amor profundo e libertador que aponta para reflexões sempre importantes sobre a paternidade no universo LGBT.

5. Capitão Fantástico, de Matt Ross (2016, EUA)

Ben (de terno vermelho) e seus seis filhos em Capitão Fantástico

Em Capitão Fantástico temos um roteiro provocante que acompanha uma espécie de família Von Trapp isolada na selva durante uma fase decisiva de suas vidas. Mas, não aparecerá nenhuma Maria para salvá-los. Ao contrário. Um choque cultural vai obrigá-los a rever seus valores já que a selva não vai prover a família de Ben (Viggo Mortensen) da contemporaneidade necessária para uma adequada convivência entre ele e seus seis filhos e destes com o mundo que os chama irresistivelmente.

Ben cuida sozinho de sua prole que vai de crianças de 5 anos a adolescentes de 17, um grupo barulhento de seis vozes dissonantes que ralam e suam para obedecer ao rigor imposto pelo pai. Na sua percepção, Ben busca a unidade familiar por meio da autossuficiência do indivíduo. Entre outros temas, o longa sugere também uma crítica ao home schooling e à educação militar, tipificada sob condições bem adversas, é verdade, mas não menos relevante por que se apresenta sob o ponto de vista paterno. Como figura masculina responsável pela educação, alimentação, segurança financeira e afetiva e todas as outras demandas de seis filhos, o personagem de Mortensen inspira generosidade por um lado e obsessão, por outro. E todas as nuances possíveis entre estes dois polos.

6. Pais e Filhos, de Hirokazy Kore-Eda (2013, Japão)

Ryota e seu filho em Pais e Filhos

A incessante atração de Kore-Eda pelos dramas familiares universais é expressa majoritariamente sob a delicadeza (e às vezes a inocência) do ponto de vista de uma criança. Em seu longa de 2013 o diretor e roteirista transpõe para as telas a dramática história de troca de bebês na maternidade e seu impacto na paternidade, especialmente. A filiação consanguínea é posta em cheque (tema que será revisitado em Assunto de Família cinco anos depois) e emerge o embate hereditariedade x identificação cultural e afetiva.

Ryota Nonomiya (Masaharu Fukuyama) é um executivo wokaholic que descobre que seu filho

de seis anos não é seu. Encontrada a família biológica, a troca é desfeita e as consequências são pontas de lança de várias reflexões. A profundidade das transformações de tal impulso corajoso atinge até o pai mais progressista e confiante. E como todo filme de Kore-Eda, sem apelar para nenhuma pieguice.

7. Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris (2006, EUA)

Richard e sua pequena Olive em Pequena Miss Sunshine

Esta pequena pérola do cinema independente retrata uma família gerida do fracasso do american way of life. Sem sucessos pessoais, sem colchão financeiro, sem unidade. Mas com o entendimento do que significa viver neste anti-padrão. E isto é passado abnegadamente à caçula com a devida mediação de uma experiência fracassada (mais uma) para os olhares externos.

A experiência é um concurso de beleza infantil de que Olive (Abigail Breslin) participa e perde. E o fracasso da criança apenas cristaliza a percepção de que o diferente se dá em várias dimensões da vida de um indivíduo e há perdas e ganhos a se considerar. O fracasso não define o indivíduo. E aqui está seu pai, Richard (Greg Kinnear), expondo o grande paradoxo das dores do crescimento: um coach de auto-ajuda que é um…fracassado. Entre todos os familiares, é o pai que mais sensibiliza por nunca vacilar um segundo sequer no apoio ágil e emocional que Abigail precisa. Certamente há uma complementaridade entre todos os personagens, mas o pai sintetiza o âmago da questão.

8. O garoto, de Charles Chaplin (1921, EUA)

Carlitos e o garoto que adotou com amor sincero em O garoto

Das certezas do cinema mundial, uma das mais sólidas é a genialidade de Charles Chaplin. A magia de seu personagem Carlitos irradia a simples humanidade que às vezes nos falta. Sem complicar roteiros, produção, atos, Chaplin é sintético, belo e reflexivo. Em O garoto o tema da adoção por identificação afetiva e cultural é um passeio poético que permanece conosco fresco e frutífero.

A força imagética do pai Carlitos e o pequeno menino que rouba seu coração inspirou muitos diretores a fazerem roteiros similares. Mas Chaplin, por ser o pioneiro e o mais bem sucedido na tradução da paternidade na adoção, por anos a fio, está muito além do universo artístico e repousa docemente nos corações dos pais que se abrem para sua obra.

9. Três solteirões e um bebê, de Leonard Limoy (1987, EUA)

Jack tem que se virar para cuidar da bebê Mary em Três solteirões e um bebê

Impossível não lembrar desta comédia clássica para a família que fez grande sucesso nos anos oitenta. Simples e previsível, o longa é até hoje um ponto fora da curva na carreira do multi-artista Leonard Limoy, o Dr. Spock de Star Trek. Limoy encarou refilmar o original francês (3 Homens e um bebê, 1985) e conseguiu um resultado que agradou público e crítica, sendo a maior bilheteria do ano.

O título é auto-explicativo: três amigos se vêem às voltas com muita confusão quando encontram um bebê abandonado na porta do apartamento que dividem. A pequena Mary é filha de Jack (Ted Danson), fruto de seu namorico com Nancy Travis. O trio reluta, naturalmente, mas aceita o desafio de cuidar da bebê. Diversão às antigas para celebrar a descoberta do pai babão que há dentro de muitos homens.

10. Procurando Nemo, de Andrew Stanton (2003, EUA)

Nemo e seu pai em Procurando Nemo

No Dia dos Pais dos clássicos das animações não pode faltar o peixinho mais maroto do cinema. Nemo e seu pai super protetor vivem uma aventura submarina que encanta todas as idades até os dias de hoje.

Em seu caminho para a escola, o espevitado Nemo é capturado por um mergulhador e acaba em um aquário de um dentista. Seu pai se afunda numa busca sem fim pelo pequeno perfazendo com graça e carisma todo percurso do herói de qualquer criança.

11. Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, de Tim Burton (2003, EUA)

Will carrega Ed Bloon no colo em cena de Peixe Grande

Tim Burton é excepcional em suas fantasias, mesmo com um visual carregado que pode desagradar a alguns. Sua fábula sobre o relacionamento de um pai, grande contador de causos, e seu filho, constrangido pela fama que seu pai construiu por anos e anos, é tocante.

As histórias fascinantes que envolvem Ed Bloom (Albert Finney) ultrapassam a pequena cidadezinha em que viveu com sua família e amigos. Seu filho Will (Billy Crudup) rejeita toda a fantástica trajetória de Ed simplesmente por que nunca pode compreender a simbologia por trás de tantos signos e metáforas. Quando ele finalmente se dá conta da grandeza e humanidade profundas de seu pai, temos um clímax que arrebata lágrimas do mais gélido espectador. Os desavisados então, podem preparar muitas caixas de lencinhos.

12. Moonlight: sob a luz do luar, de Barry Jenkins (2018, EUA)

Juan e Little em cena de Moonlight

As descobertas de sexualidade e identidade social do adolescente Little (Alex Hibbert) o coloca em conflito interno e é de Juan (Mahershala Ali) que recebe o acolhimento e amor incondicional da figura paterna que não tem em casa.

Com um Oscar atrapalhado em 2017 (inicialmente, o prêmio de Melhor Filme foi anunciado para La-La-Land para, logo em seguida, ser entregue a Moonlight), o longa de Barry Jenkins é esquecido quando se fala de paternidade natural. Juan é um traficante de drogas com uma inequívoca vocação paternal e consegue dar vazão a ela nos cuidados e reflexões que Little lhe inspira. Assume a presença afetiva e material do pai livre de preconceitos. Uma doação profunda ao outro, acima do nome que se queira dar a isto.

13. Hair Love, de Mathew Cherry e Karen Rupert (2019, EUA)

A garotinha Zuri e seu pai em Hair Love

Esta impecável animação usa de linguagem universal de imagens para falar da particularidade da beleza afro: o cabelo cacheado. Na história ganhadora do Oscar de Animação de 2010, a pequena Zuri acorda de manhã e tem o desafio de domar suas madeixas rebeldes. Procura ajuda em sites na internet, mas sem a intervenção cirúrgica de seu pai não conseguiria o resultado perfeito que desejava.

Com explosão de fofura e signos de amor consolidados no imaginário coletivo, este curta diz muito sobre vários temas como aceitação do próprio corpo, ações positivas identitárias e pro-atividade paterna. Sete minutos que valem por 90 de qualquer outro desta lista. E o melhor, de graça, ao seu alcance, aqui.

Sobre Magah Machado

Paulistana, designer e analista de informação, entusiasta de expressões artísticas livres e autênticas na dança, cinema, música e fotografia como motores propulsores de mudanças no mindset careta e convencional