Conheça a trajetória de sucesso da mulher que vendia salgados e hoje comanda o Banco do Povo

Jandaraci Araujo contou com exclusividade para o Empoderadxs como conseguiu ascender em sua carreira e superar os estigmas de ser uma mãe solteira, preta e nordestina

O brasileiro que se aventura no ramo do empreendedorismo sabe que crescer em seu próprio negócio não é uma tarefa fácil, se você for mulher, negra e nordestina, a tarefa pode se tornar ainda mais difícil. Superando todas as adversidades, a baiana Jandaraci Araujo, construiu uma trajetória de sucesso: de vendedora de salgados ela se profissionalizou e hoje desponta como diretora-executiva do Banco do Povo, onde se dedica a facilitar o caminho daqueles que desejam administrar o próprio negócio.

Jandaraci conta que foi vendendo salgados que aprendeu tudo sobre o varejo. Em entrevista exclusiva ao site Empoderadxs, ela compartilha algumas das muitas lições que ficaram da época em que dava duro como trabalhadora informal:

“Dignidade e ética são primordiais, não podemos sucumbir a opções não tão bacanas que acabam surgindo ao longo do caminho. Além disso, é preciso ter uma vontade genuína de vencer e então você pode fazer qualquer coisa.” E ela incentiva a todos: “Planejando, tudo dá. Não precisa ter pressa, nem se comparar com os outros, viva dentro da sua realidade, esses são conceitos que não me deixaram perder o foco, e eu sou uma pessoa extremamente focada”, revela a diretora.

Janda, como prefere ser chamada pelos amigos, saiu da Bahia e foi para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades e para proporcionar uma vida melhor para as duas filhas, Diumara e Luana. Desempregada, ela teve a ideia de vender salgados na porta de uma universidade, afinal, se reinventar faz parte da vida dessa mulher que sempre encarou as oportunidades com muita garra: “Já consertei eixo de caminhão e tive uma pequena serralheria onde cortava, moldava e soldada ferros”.

As filhas também foram um grande motor nessa trajetória, como ela mesmo explica: “As minhas filhas foram o motivo para eu chegar até aqui, não barreira. Eu queria que elas tivessem uma referência em termos de decisões conscientes.”

A grande virada

Vendendo salgados em frente de uma universidade, ela teve sua primeira chance de dar uma guinada na carreira: “Um professor que sempre comprava comigo, um dia me perguntou sobre a minha história e conversamos. No dia seguinte, ele me deu seu cartão e pediu que procurasse uma de suas gerentes. Cinco dias depois, comecei a trabalhar em uma das maiores redes do varejo, fiz minha carreira lá. Fui transferida para São Paulo em 2003”.

Em meio a boa fase, um susto: Jandaraci foi diagnosticada com um câncer no abdômen. Ela aproveitou a situação para repensar a vida e abraçar uma nova oportunidade: Jana foi convidada a assumir o cargo de subsecretária de Empreendedorismo de Pequenas e Médias empresas do Estado de São Paulo e também se tornou diretora-executiva do Banco do Povo, órgão ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, estando atualmente envolvida com o desafio de torná-lo um banco digital.

Para conseguir trilhar essa história de sucesso, Jandaraci conta que sempre acreditou demais na educação. “A educação é transformadora! Busquem cursos gratuitos, se preparem para as oportunidades que podem surgir e saiba pedir ajuda, ninguém vai a lugar nenhum sozinho, busque grupos de apoios, amigos, faça uma rede de contatos, uma rede de apoio, isso é importante, principalmente para as mães solteiras”.

Superando o Preconceito

Perguntada sobre seus objetivos, Jandaraci é categórica: “Meu propósito é lutar por uma sociedade mais igualitária, onde a cor da pele não defina o lugar onde devemos estar e ser mulher. Que não precisamos ser cota da cota (negra, mulher e nordestina), que não nos coloquemos como referência de diversidade, mas sim de normalidade, principalmente, nas posições de liderança, seja no setor público ou privado”.

Em relação ao preconceito que as mulheres negras sofrem, Jana compartilha sua visão: “O preconceito é uma barreira, é preciso ter resiliência, não se deixar sucumbir. Todas as mulheres passam pelo sexismo, machismo, pelo duvidar e pelo silenciamento, todas mulheres estão no mesmo barco. Mas, com a mulher negra é pior, não importa o seu currículo, a todo momento questionam a sua fala, o seu conhecimento e as oportunidades são poucas para nós, somos obrigadas a aceitar o que vier”.

Por fim, ela deixa uma mensagem positiva: “A força do rio não está em passar por cima da pedra, mas em saber contorná-la de vez em quando. Nem sempre é necessário que a gente saia encarando as adversidades de forma brutal, é preciso saber contornar, ter inteligência emocional e autoconhecimento é fundamental, querer chegar naquela posição porque você quer mesmo, não porque as pessoas te cobram ou porque há alguém ostentando aquele cargo”.

Confira a palestra da Jandaraci Araujo no TEDx:

Sobre Nubia Del Santos

Jornalista por formação, curiosa por natureza. Redatora e assessora de marketing digital. Louca por viagens, cinema, livros, teatro e gatos. Chef na sua cozinha. Acredita no poder do amor e da comunicação para transformar o mundo.